quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

IRMÃO LOBO NO CONCURSO DE LEITURA DE CASCAIS


Fiquei muito contente por saber que o Irmão Lobo foi uma das quatro obras seleccionadas para o 1º Concurso de Leitura do Concelho de Cascais, que envolve a participação de alunos do 2º e 3º ciclos de onze agrupamentos. A final vai ser no dia 29 de Abril, na Biblioteca Municipal S. Domingos de Rana, e claro que estarei lá para o que der e vier (só não posso «soprar» respostas). Os outros livros seleccionados foram: Alex Ponto Com: uma aventura virtual, de José Fanha; A Talentosa Flavia de Luce, de Alan Bradley; O Mundo em Que Vivi, de Ilse Losa. Muito boa companhia.

[A página do Facebook do Irmão Lobo está aqui.]

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O REGRESSO DA ORDEM


A Babel vai reeditar O Clube das Chaves, uma das colecções de mistério e aventura mais marcantes para a geração de jovens leitores dos anos 90. Da autoria de Maria Teresa Maia Gonzalez e Maria do Rosário Pedreira, começou a ser publicada em 1990 e foi, mais tarde, adaptada para televisão. Frederico, Pedro, Anica, Guida, Vasco e André são as personagens principais do núcleo de investigadores autodenominado a O.R.D.E.M. Bem precisamos dela.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

POR DENTRO DA COZINHA DA NOITE


E pronto. Depois da rigorosa aprovação dos herdeiros da obra, entrou em trabalho de impressão o segundo livro da «trilogia deslaçada» de Maurice Sendak (a expressão pertence-lhe). Na Cozinha da Noite (1970) segue-se a Onde Vivem os Monstros (1963), já publicado em 2009 pela Kalandraka, com tradução de Elisabete Ramos, e antecede Outside Over There (1981). Note-se que entre o primeiro e o segundo livro há sete anos de intervalo; e entre o segundo e o terceiro nada mais nada menos do que onze anos... Só isto já dá uma ideia do pensamento sinuoso do Sendak, para quem escrever e desenhar - coisa que fez durante toda a vida - significou pôr a criatividade ao serviço das forças do inconsciente e não de ditâmes exteriores. Daí a sua radicalidade, o seu compromisso, a sua liberdade; e a sua influência em tantos outros autores. Foi fácil traduzir In The Night Kitchen? Não, mas estou satisfeita com o resultado. O livro deverá chegar às livrarias na segunda semana de Março.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

WENDY NO DIVÃ: CAPITÃO GANCHO


CAPITÃO GANCHO O personagem mais só e melancólico da história de Peter Pan é também um vilão sinistro, à altura dos princípios da pirataria. Quem lhe der a mão acaba ferido.

Prisioneiros do risco e da tragédia, os piratas cultivam uma exuberância festiva, que no caso de James Gancho se associa ao porte de grand seigneur. Filho indesejado, cativo de um passado misterioso, «revelar quem ele era de facto poria ainda hoje o país a ferro e fogo», insinua J.M. Barrie. Essa identidade reprimida mostra-se nos «olhos cor de miosótis e de uma profunda melancolia», um dos seus estados de alma constantes. O próprio autor diz que «o homem não era totalmente mau», embora procedesse como um canalha a maior parte das vezes. Prepotente com a tripulação do Jolly Roger, sádico com as vítimas, capaz de mentir e enganar sem escrúpulos, Gancho é um caso evidente de personalidade anti-social. A educação no colégio interno de Eton não lhe terá feito muito bem. Afinal, talvez seja ele o mais perdido dos lost boys, fugindo do tic-tac do crocodilo até à hora fatal. Mas não choremos, já que morreu como um pirata: a rir-se dos seus tormentos.

(Texto publicado na revista LER nº 132, rubrica «Wendy no Divã»).

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

NAMORA UMA RAPARIGA QUE LÊ

 
«Namora uma rapariga que lê. Namora uma rapariga que gaste o dinheiro em livros, em vez de roupas. Ela tem problemas de arrumação porque tem demasiados livros. Namora uma rapariga que tenha uma lista de livros que quer ler, que tenha um cartão da biblioteca desde os doze anos.

Encontra uma rapariga que lê. Vais saber que é ela, porque anda sempre com um livro por ler na mala. É aquela que percorre amorosamente as estantes da livraria, aquela que dá um grito imperceptível ao encontrar o livro que queria. Vês aquela miúda com ar estranho, cheirando as páginas de um livro velho, numa loja de livros em segunda mão? É a leitora. Nunca resistem a cheirar as páginas, especialmente quando ficam amarelas.

Ela é a rapariga que lê enquanto espera no café ao fundo da rua. Se espreitares a chávena, vês que a espuma do leite ainda paira à superfície, porque ela já está absorta. Perdida num mundo feito pelo autor. Senta-te. Ela pode ver-te de relance, porque a maior parte das raparigas que lêem não gostam de ser interrompidas. Pergunta-lhe se está a gostar do livro.

Oferece-lhe outra chávena de café com leite.

Diz-lhe o que realmente pensas do Murakami. Descobre se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade. Entende que, se ela disser ter percebido o Ulisses de James Joyce, é só para soar inteligente. Pergunta-lhe se gosta da Alice ou se gostaria de ser a Alice.

É fácil namorar com uma rapariga que lê. Oferece-lhe livros no dia de anos, no Natal e em datas de aniversários. Oferece-lhe palavras como presente, em poemas, em canções. Oferece-lhe Neruda, Pound, Sexton, cummings. Deixa-a saber que tu percebes que as palavras são amor. Percebe que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade – mas, caramba, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco com o seu livro favorito. Se ela conseguir, a culpa não será tua.

Ela tem de arriscar, de alguma maneira.

Mente-lhe. Se ela compreender a sintaxe, vai perceber a tua necessidade de mentir. Atrás das palavras existem outras coisas: motivação, valor, nuance, diálogo. Nunca será o fim do mundo.

Desilude-a. Porque uma rapariga que lê compreende que falhar conduz sempre ao clímax. Porque essas raparigas sabem que todas as coisas chegam ao fim. Que podes sempre escrever uma sequela. Que podes começar outra vez e outra vez e continuar a ser o herói. Que na vida é suposto existir um vilão ou dois.

Porquê assustares-te com tudo o que não és? As raparigas que lêem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem. Excepto na saga Crepúsculo.

Se encontrares uma rapariga que leia, mantém-na perto de ti. Quando a vires acordada às duas da manhã, a chorar e a apertar um livro contra o peito, faz-lhe uma chávena de chá e abraça-a. Podes perdê-la por um par de horas, mas ela volta para ti. Falará como se as personagens do livro fossem reais, porque são mesmo, durante algum tempo.

Vais declarar-te num balão de ar quente. Ou durante um concerto de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Pelo Skype.

Vais sorrir tanto que te perguntarás por que é que o teu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Juntos, vão escrever a história das vossas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos ainda mais estranhos. Ela vai apresentar os vossos filhos ao Gato do Chapéu e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos da vossa velhice e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto tu sacodes a neve das tuas botas.

Namora uma rapariga que lê, porque tu mereces. Mereces uma rapariga que te pode dar a vida mais colorida que consegues imaginar. Se só lhe podes oferecer monotonia, horas requentadas e propostas mal cozinhadas, estás melhor sozinho. Mas se queres o mundo e os mundos que estão para além do mundo, então, namora uma rapariga que lê.

Ou, melhor ainda, namora uma rapariga que escreve.»

(Texto de Rosemarie Urquico. Tradução "não oficial" de Carla Maia de Almeida para celebrar o Dia Mundial do Livro, 23 de Abril de 2011. Republicado no dia 14 de Fevereiro de 2014, et pour cause...)

MAR BOLONHÊS


A página da Feira do Livro Infantil de Bolonha ainda não está actualizada, mas já é público que um dos livros portugueses concorrentes aos prémios de 2014 ganhou uma menção honrosa na categoria de não ficção. Cruzamento de livro informativo com livro de actividades, escrito com muita graça e desconcerto, Mar, de Ricardo Henriques (texto) e André Letria (ilustração) é mesmo uma pequena obra-prima. Parabéns aos dois e a toda a equipa da editora Pato Lógico! Mais informações e um booktrailer podem ser vistos aqui.

O AMOR É ISTO


Quem tem gatos sabe como eles são sensíveis à voz humana (e ao ruído em geral). Na Pensilvânia, um abrigo para animais abandonados teve esta ideia maravilhosa.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

NOVIDADES DA TEXTO


A bem dizer, é apenas uma novidade, a primeira do ano para a editora Texto no segmento infantojuvenil: Pequena História do Mundo, um livro informativo recomendado para crianças e pré-adolescentes entre os 9 e os 13 anos, tem ilustrações de João Maio Pinto e foi traduzido do espanhol. Assina Fernando García de Cortázar, sacerdote jesuíta e professor catedrático, vencedor do Prémio Nacional de História 2008.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

ALCE NEGRO VIVE


O meu Padrinho trouxe de Angola um tapete de parede igual a este, descoberto há dias num desses sites que compram e vendem coisas usadas. Até aos anos 70, quando ainda não estavam associados ao exotismo kitsh, encontravam-se frequentemente em muitas casas portuguesas, à entrada ou nas salas de jantar, representando leões, leopardos, antílopes e outros animais habituados aos grandes espaços. Eu teria uns quatro ou cinco anos e lembro-me de como me fascinava este enorme tapete-que-também-era-um-quadro (pelo menos, eu achava-o enorme), que se deixava tocar como veludo e exigia uma contemplação prolongada. Num mundo de adultos, em casa dos meus padrinhos, ninguém terá dado por este fascínio, nem eu teria gostado que dessem. Assim vivemos até hoje, os veados e eu, inseparáveis. Saciados pelo alimentar contínuo das imagens nas imagens sobre as imagens, num país livre onde nenhum animal se extingue.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

TRAZ UM AVÔ TAMBÉM


O destaque da LER de Fevereiro foi para o terceiro picture book de Catarina Sobral, O Meu Avô (Orfeu Negro), muito diferente dos anteriores Greve e Achimpa. O lançamento decorre na livraria Ler Devagar, à LX Factory, no próximo domingo, 9 de Fevereiro, às 15h30. Diz que vai haver «bolo da avó». A entrada é livre.

EMBORA FAZER UM LIVRO?


Esta família não pensa inscrever-se no curso para pais e filhos (ou avós e netos, ou tios e sobrinhos...) em que a finalidade é criar um livro ilustrado. Nuno Costa Santos ajuda a orientar a narrativa, Sofia Vargues ocupa-se da ilustração. O primeiro começou no início deste mês, mas haverá outro em Março. Saibam tudo aqui.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

UM MERGULHO NA COZINHA DA NOITE


Coube-me o privilégio um pouco insano de traduzir para português grande parte da obra de Maurice Sendak (1928-2012), autor norte-americano de ascendência polaca, amado e odiado q.b., homem de mau feitio e um daqueles nomes a quem se reconhece facilmente o dom da genialidade. Trata-se de uma tarefa que me deixa entre o entusiasmo e a angústia, características geneticamente apuradas desde que nasci sob o signo de Saturno. Sendak, vencedor do Prémio Caldecott de 1964 e do Prémio Andersen de 1970 (em ilustração), entre muitos outros, vai ser finalmente editado em Portugal pela Kalandraka, o que é já um dos acontecimentos do ano na área do infantojuvenil (ver a notícia da Lusa aqui.) Com a obra-prima de 1963, Where The Wild Things Are (Onde Vivem os Monstros, já editado pela Kalandraka em 2009), Sendak protagonizou um papel seminal na emergência do picture book enquanto «género editorial» (chamemos-lhe assim) e dotou o texto e a ilustração de uma profundidade simbólica tão subtil e complexa que, até hoje, o mínimo que se pede é humildade na tradução do original inglês. Não quero entrar em pormenores, mas antes de deitar mãos à obra li duas versões em línguas europeias que me arrepiaram os cabelos, autênticos atropelos reescritos sem a noção correcta do que é um trabalho de autor... Traduzir livros para crianças não é, em muitos casos, tão fácil como parece, mas sobre esse assunto falarei nos próximos posts. Para já, aqui fica a capa de Na Cozinha da Noite, o segundo título da «trilogia deslaçada» (expressão do próprio Sendak) composta por Onde Vivem os Monstros e Outside Over There, que traduzirei a seguir. Estará nas livrarias no final de Março.