sexta-feira, 7 de agosto de 2015

IRMÃO LOBO É BRAT VUK


Tenho em mãos a recém-chegada versão sérvia do Irmão Lobo, cuja capa mole não desmerece em nada a cuidada edição da Kreativni Centar. Por esta editora de Belgrado, com o suporte dos programas de apoio à tradução da Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas, já saíram os romances juvenis de Ana Saldanha (Para Maiores de Dezasseis), Afonso Cruz (Os Livros que Devoraram o Meu Pai), Ondjaki (Bom Dia, Camaradas) e Alice Vieira (A Vida nas Palavras de Inês Tavares), todos eles essenciais para a compreensão da literatura portuguesa para «adolescentes e leitores mais crescidos», roubando a bem achada designação do Planeta Tangerina. Escusado será sublinhar o quanto me sinto grata por estar junto destes nomes. Irmão Lobo escreve-se como podem ver na imagem e pronuncia-se Brat Vuk.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

O COMEÇO DE UM LIVRO É PRECIOSO, 16


«Durante a última primavera na Universidade, uma espécie de agitação apoderou-se de Myra. Era algo que não conseguia compreender; estava para além da inquietação de uma juventude exuberante. Era mesmo qualquer coisa de neurótico. Nada do que fazia parecia satisfazê-la ou realizá-la totalmente. Nem quando regressava tarde de um baile em que passara de par em par, nem isso bastava para que caísse de fadiga e adormecesse. Era como se faltasse não sabia o quê que atribuísse à noite toda a sua plenitude. Às vezes, tomava-a uma sensação de pânico, ou quase, como se tivesse perdido ou esquecido alguma coisa muito importante.»

Tennessee Williams, O Campo das Crianças Azuis, in A Noite da Iguana e Outras Histórias, Assírio & Alvim, 1987, tradução de José Agostinho Baptista. Originalmente publicado em 1936.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O COMEÇO DE UM LIVRO É PRECIOSO, 15


«Ele estava a ler-lhe Rilke, um poeta que admirava, quando ela adormeceu com a cabeça no travesseiro dele. Gostava de ler em voz alta e lia bem, numa voz confiante e sonora, ora baixa e grave, ora retumbante, ora excitante. Enquanto lia nunca desviava os olhos da página e apenas interrompia para estender o braço para a mesinha-de-cabeceira e pegar num cigarro. Era uma voz que a transportava até um sonho povoado de caravanas que iniciavam uma viagem a partir das cidades rodeadas de ameias, com homens barbudos vestidos com túnicas. Tinha-o escutado durante alguns minutos, fechara os olhos e adormecera.»

Raymond Carver, A Mulher do Estudante, in Queres Fazer o Favor de te Calares?, Teorema, 1989, tradução de Carlos Santos. Originalmente publicado em 1976.