sexta-feira, 27 de junho de 2014

PRÉMIO NACIONAL DE ILUSTRAÇÃO 2013


António Jorge Gonçalves, «meu irmão lobo», ganhou o último Prémio Nacional de Ilustração pelo livro Uma Escuridão Bonita, com texto de Ondjaki. Que orgulho termos ilustradores assim (e que ainda não tenham emigrado). Ver notícia completa no blogue O Palácio da Lua, da jornalista Sílvia Borges Silva.  

quinta-feira, 26 de junho de 2014

GATOS E PATOS


Os meus gatos ficam verdadeiramente intrigados com certos livros que chegam cá a casa. Os pop-ups são um desses géneros, como contei neste post. Livros com vozes de animais causam idêntico efeito de curiosidade e receio. O último de Eric Carle, 10 Patinhos de Borracha (Kalandraka), inclui um «botão» que se prime para ouvir grasnar. É o que a Mini está a tentar descobrir. Já agora, esta história é inspirada no caso dos 29 mil patos de borracha que se perderam de um cargueiro, no Oceano Pacífico, e andam à deriva desde 1992. Fascinante.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

A COMÉDIA HUMANA DOS ANIMAIS


«La Fontaine escreveu verdadeiramente a comédia humana dos animais», afirmou Pinheiro Chagas, escritor, jornalista e político que, no século XIX, comentava a importância da obra de Jean de La Fontaine (1621-1695), dada à estampa pela primeira vez dois séculos antes. Com outros textos introdutórios assinados por Teófilo Braga e Ramalho Ortigão, além do próprio La Fontaine, surge agora uma nova edição das mais de 200 fábulas ilustradas por Gustave Doré. São dois volumes com cerca de 400 páginas, publicados em exclusivo pelo Círculo de Leitores, com o aliciante de serem lançados com 50 por cento de desconto (17,90 € cada). Não são leituras de Verão, são de todas as estações.

Adenda ao post: acabo de reparar, hélas, que os textos desta edição são traduzidos por poetas portugueses e brasileiros do século XIX, árcades como Curvo Semedo ou Filinto Elísio, esses «mazorros sensaborões» que tanto irritavam Eça de Queirós, quando perguntava, de Inglaterra, «o que é que em Portugal lêem as pobres crianças». Bom, é pena não termos direito a traduções mais frescas... Haverá que ler com atenção, mas fica desde já o aviso: cuidado para não tropeçar nos arrebiques e gongorismos da linguagem.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

GODDESS PATTI


«O artista procura o contacto com a sua noção intuitiva dos deuses, mas, para criar a sua obra, ele não pode ficar nesse domínio sedutor e incorpóreo. Tem de regressar ao mundo material para efectuar a sua obra. É responsabilidade do artista equilibrar a comunicação mística e o labor da criação.»

(Patti Smith, Apenas Miúdos, ed. Quetzal, tradução de Jorge Pereirinha Pires. Fotografia de Robert Mapplethorpe.)

quinta-feira, 19 de junho de 2014

BARNABY BROCKET, UM HERÓI

 

Penitencio-me por só agora ter dado a devida atenção a este livro, ou tê-lo-ia incluído na lista dos melhores de 2013. Do mesmo autor de O Rapaz do Pijama às Riscas, o irlandês John Boyne (ver post aqui), A Coisa Terrível que Aconteceu a Barnaby Brockett (adoro títulos compridos) é um romance em que a imaginação e o humor se encontram bem sustentados pela fluência e estrutura narrativa. Barnaby Brockett é um rapazinho autraliano que nasce incólume à lei da gravidade, estranheza que o põe a flutuar acima de toda a gente, literalmente. Os pais não vêm com bons olhos a bizarria do filho mais novo; e o que se segue é um enredo cheio de peripécias que incorpora o tema do abandono e da construção da identidade sem facilitismos nem lamechices de qualquer espécie. Exemplo perfeito de literatura crossover, a história de Barnaby Brockett encontrará especial eco nos leitores adolescentes, mais aptos a compreender a crítica social implícita no livro. Cinco estrelas.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O RAPAZ OSTRA



O Rapaz Ostra, de Tim Burton, na versão da fotógrafa Susana Blasco. Ver mais imagens desta série no Público. (Obrigada, Angelina Pereira).

COMO UMA ÁRVORE


Um dos poucos lugares onde não se pratica o jornalismo cultural envergonhado, a revista Blimunda faz dois anos e assinala o aniversário com um número especial em papel. É deitar-lhe as mãos.

terça-feira, 17 de junho de 2014

O QUE ESTÁ LÁ FORA


Durante anos, persegui a origem desta imagem, publicada num artigo que escrevi para a Notícias Magazine sobre o livro Mulheres que Correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés (basicamente, a minha «bíblia»). Descobri, há pouco, no meio das traduções da obra de Maurice Sendak, tratar-se de uma pintura de Briton Rivière, datada de 1902, representando Afrodite a descer o Monte Ida, espaço sagrado da mitologia greco-romana. Ida é o nome da protagonista de Outside Over There, o último livro da «trilogia deslaçada» de Sendak, a sua obra mais pessoal e mais enigmática, da qual ele próprio confessou ter tido dificuldades em sair. «Foi a experiência mais penosa da minha vida enquanto criador. Uma verdadeira catástrofe. Foi tão duro que acabei por ter uma depressão», afirmou, numa entrevista à Horn Book Magazine, em 2003. Ida, a menina que parte em busca da irmã bebé raptada por duendes, é uma homenagem à sua irmã, Natalie Sendak, nove anos mais velha. O bebé raptado não é outro se não «o próprio» Sendak, revisitando um dos acontecimentos mais marcantes da sua infância: o rapto criminoso do bebé Lindbergh, que assustou o mundo em Março de 1932 (seria descoberto dois meses mais tarde, já morto). Maurice Sendak, então com apenas quatro anos, não compreendeu como era possível a tragédia abater-se sobre uma criança rica e superprotegida pelos pais, o seu oposto enquanto filho de emigrantes pobres que não falavam inglês, nos Estados Unidos de todas as oportunidades. Ida, a personagem-irmã de Outside Over There, menina corajosa, intensa e pletórica (tal como Afrodite) vem resgatar não apenas o bebé da história, mas toda uma possibilidade de justiça e ressurreição da vida interrompida. A essa ressurreição também se chama Arte.

Outside Over There ficou, em português, para a tradução da Kalandraka que será publicada este ano, O Que Está Lá Fora. Quero dizer: tudo o que nos assusta e que nos atrai ao mesmo tempo. Tudo o que está lá fora e cá dentro, como as muitas encostas do Monte Ida.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

LEITURAS MIÚDAS DE VOLTA À LER


Já anda aí a LER de Junho, a única que teremos até ao próximo trimestre. O grafismo mudou, o papel também, a linha editorial idem. Ganhou cerca de 50 páginas; há muito para ler e demoradamente. Eu gosto. As «Leituras Miúdas» mantiveram-se e voltaram a ter três páginas com as rubricas habituais (Scrapbook e Wendy no Divã), recuperadas (Biblioteca do Nautilus) ou novas (Destinatário Incerto, sobre livros crossover). Não há críticas de livros, mas há sugestões. Espero que também gostem.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

VOAR É CAIR CONTRA O CÉU


«Tal como tu cais no chão,
voar é cair contra o céu,
disse-me um pássaro.
Creio que era um gaio.
Mas os corvos dizem a mesma coisa.
Exactamente a mesma coisa.»

in Os Pássaros (os poemas voam mais alto), texto e ilustrações de Afonso Cruz, ed. APCC, 2014

quinta-feira, 5 de junho de 2014

SALVANDO MARY POPPINS


«P.L. Travers adoptou a tradição de muitos escritores vitorianos (como Lewis Carroll em Alice no País das Maravilhas ou J. M. Barrie em Peter Pan) no que toca à exaltação mitificada da infância e de um perpétuo mundo de fantasia. No livro, os gémeos bebés falam assim dos pais e dos dois irmãos mais velhos: «Acho que nunca irei compreender os adultos. Parecem todos tão estúpidos. Até a Jane e o Michael são estúpidos às vezes.» Walt Disney preferiu o tom reconciliatório e da afirmação dos valores familiares, como seria de esperar; mas a edição do texto original pela Relógio d’Água apresenta-nos uma Mary Poppins muito diferente da protagonizada pela cristalina Julie Andrews.»

(Texto completo na LER nº 134... Quase a chegar às bancas, agora com periodicidade trimestral. O trailer do filme sobre o «processo» P.L. Travers/Walt Disney pode ser visto aqui.)

quarta-feira, 4 de junho de 2014

20 LIVROS PARA CRIANÇAS (NEM TODOS BONS)


A propósito do Dia Mundial da Criança, o MSN Portugal recolheu 20 propostas de leituras para os mais novos e preparou uma galeria de imagens que continua online, aqui. Sugeri cinco. Não subscrevo todas as outras, mas isso é a biodiversidade.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

MAURICE SENDAK EM ENTREVISTA



«I think there's something barbaric in children, and it's missing in lots of books for children because we don't like to think of it. We want them to be happy. And childhood is a very tough time. It was for me, and it was for my brother and my sister.»

(Um pequena e tocante entrevista a Maurice Sendak, realizada em 2009, com a particularidade de ser feita em animação e com legendas em inglês. Cortesia de Bruno Vide).