quinta-feira, 29 de setembro de 2011

DN JOVEM: HISTÓRIA E MEMÓRIAS


Não tendo sido uma “DN Jota” (traduzindo para as novas gerações: nunca tendo publicado no extinto suplemento do Diário de Notícias), fui fiel seguidora desde o início e tenho a memória vívida de acordar todas as terças-feiras com a expectativa acrescida de fazer parte dessa comunidade de leitores que foi o DN Jovem. Sei que não é muito canónico falar de lançamentos de livros um dia depois de terem acontecido (o Bibliotecário de Babel, atento como de costume, avisou a tempo), mas quem dera que fossem todos assim. Interessantes, descontraídos, participados, emocionados, indignados, com histórias reais para contar, longe das vaidades e das vacuidades do costume. Ontem, na Bulhosa de Entrecampos, Pedro Mexia apresentou o livro de Helena de Sousa Freitas que teve origem numa tese de mestrado do ISCTE: DN Jovem – Entre o papel e a net (História e Memórias de uma Transição), agora editado pela Esfera do Caos. Falei nele aqui e aqui, não vou repetir-me, a não ser para dizer que vale muito a pena ler ou consultar. Foi também o primeiro lançamento a que assisti em que o editor atingiu o nirvana do discurso encomiástico para o apresentador do livro (incluiu até a palavra “ilustríssimo”), sem no entanto dedicar uma palavra à sua autora. Sem dúvida, um lançamento diferente do habitual. Até nisso.

ENXERGAR MAIS LONGE


“Na visita ao oftalmologista veio a notícia: o menino teria que usar óculos. Um susto. Como serão meus óculos? O que eles vão me fazer enxergar? Que tipo de óculos serão? Ficarei parecendo uma mosca? As ilustrações do premiado André Letria acompanham as dúvidas e elucubrações do pequeno menino, apresentando ao leitor os mais diferentes tipos de óculos. Trata-se de um livro de literatura, mas também um livro de apoio para pais e crianças que vivem essa situação tão comum.”

(Do site da editora paulista Peirópolis, que acaba de lançar a versão brasileira do Não Quero Usar Óculos. Grande sorriso cá deste lado do Atlântico!)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

COLÓQUIO INTERNACIONAL DE LIJ


É um aliciante programa de dois dias que reúne três dezenas de escritores, investigadores, professores, mediadores de leitura e outros especialistas à volta das literaturas de língua portuguesa para crianças e jovens, num eixo geográfico que abarca o Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde e Moçambique. Acontece na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, dias 27 e 28 de Outubro. Está tudo aqui (clique na imagem deste link para aumentar o cartaz).

(Inscrições e informações pelo telefone 217920044 ou clepul@gmail.com)

terça-feira, 27 de setembro de 2011

NOVO LIVRO DA GATO NA LUA


E vão três. O Que é o Amor?, de Davide Cali (texto) e Anna Laura Cantone (ilustrações) é novo título da Gato na Lua, nas livrarias esta semana. Davide Cali, nascido na Suíça, em 1972, foi o segundo autor publicado pela Bruaá, e não deverá desiludir quem gostou de Eu Espero…

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

NOVO LIVRO DA BAGS OF BOOKS


Com texto de Nuno Casimiro e ilustrações de João Vaz de Carvalho, O Mundo no Chão é a próxima novidade da Bags of Books, com lançamento marcado para o próximo dia 15 de Outubro, às 16h00, na FNAC Coimbra. A apresentação estará a cargo de Valter Hugo Mãe.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

OS DESASTRES DE TEODORO


Preferia ser reconhecido como um escritor que ilustrava, mas tudo o que fazia revelava esse génio criativo próprio de quem tira de si um universo tão singular quanto transbordante. Edward Gorey, cujo fantasma terá sempre um banco cativo no Jardim Assombrado, vai reaparecer em Outubro nas livrarias (depois desta edição já muito difícil de encontrar), agora com a chancela da Livros Horizonte. Quando Teodoro Encolheu (The Shrinking of Treehorn) é o primeiro título de uma trilogia que gostaríamos muito de ver continuada, com ilustrações de Gorey e texto de Florence Parry Heide (EUA, 1919), uma senhora que escrevia livros para crianças com o seu quê de excêntrico e absurdo, no tempo em que escrever livros para crianças com o seu quê de excêntrico e absurdo era, em si mesmo, excêntrico e absurdo. A tradução é nossa (Oh deuses, sede clementes!) e juramos que não encontrarão frases como a anterior.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

ERA UMA VEZ... O HOMEM, 2

ERA UMA VEZ... O HOMEM, 1


Há uma geração eternamente grata a um senhor de bigode e suíças grisalhas, de seu nome Albert Barillé. Foi o autor de uma das séries de animação mais inteligentes de sempre: Era uma vez… o Homem. Transmitida originalmente pela cadeia francesa FR3, passou na RTP entre 1978 e 79 (se a memória não nos falha, aos sábados de manhã), com a Tocata e Fuga em Ré Menor de J.S. Bach no genérico. Era a época em que os desenhos animados a preto e branco, esparsamente distribuídos pela grelha televisiva, se aguardavam com uma ansiedade quase natalícia. Depois de Vickie, o Viking, que anunciou um grito de libertação em relação aos bonecos fofinhos e semiestáticos; depois da descoberta de emoções mais dramáticas e complexas, graças à Heidi e ao Marco, a série Era uma vez… o Homem representou os primeiros passos na conquista da maturidade, mais ou menos como passar da escola primária para o ciclo preparatório dos desenhos animados. Foram 26 semanas a acompanhar a evolução da primeira célula e a extinção dos dinossauros, a transição do homem de Neanderthal para o Cro-Magnon, as civilizações dos vales férteis da Mesopotâmia, a expansão dos grandes impérios. Vinte e seis semanas para conhecer o século de Péricles, a rota de Marco Polo, o reinado de Isabel I, a corte de Luís XIV, a Rússia de Pedro o Grande e tantos outros mundos. Os argumentos e diálogos de Albert Barillé eram historicamente factuais, mas não escondiam preocupações pacifistas ou ecológicas, nem a sua desconfiança pelo pior da espécie humana. O último episódio intitulava-se, justamente, «Era uma vez… a Terra (e amanhã?)». Passados mais de trinta anos, continuamos sem saber responder.

(Texto publicado na edição de 18 de Setembro da Notícias Magazine, revista de domingo do DN e JN, na secção "Nostalgia".)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

V CONFERÊNCIA DO PLANO NACIONAL DE LEITURA


Amanhã e depois, na Fundação Calouste Gulbenkian, muitas horas para falar de livros, leituras e leitores. Nós também vamos estar presentes no painel das 14h30. Programa completo aqui.

domingo, 11 de setembro de 2011

BRANCO SOBRE AZUL


O sabão azul e branco responde pelo improvável nome técnico de «sabão offenbach», uma espécie de cartão de visita para impressionar quem se interessa por nomes sonantes – neste caso, o da cidade alemã homónima onde terá tido origem. À parte isso, é o sabão mais português que existe, com todas as contradições implícitas em tal opção. Visto de fora, é uma amálgama concreta de ingredientes naturais, cujo maior peso provém dos quase 50 por cento de matéria gorda que o diferenciam de outros sabões e sabonetes. Não deixa de ser curioso pensar que um produto vocacionado para combater a sujidade – nódoas de gordura, por exemplo – comporte em si mesmo as causas do problema; mas esse é um paradoxo antigo, procedente de épocas remotas em que o azeite se usava para lavar o corpo. Não consta que alguém tenha sujado as mãos por causa disso. Mais interessante, porém, é o sabão azul e branco quando visto por dentro, após golpe de lâmina certeira. É aí que perde a faculdade de ser apenas concreto e se revela em imprevisíveis nuances e ramificações marmóreas, que tanto lembram os contornos da deriva dos continentes como as formações nebulosas do céu. Esta poética da reconstrução das formas é algo que nenhum detergente em pó consegue reproduzir, por mais sofisticado que seja. Contrariando todos os prognósticos, falta dizer que o sabão azul e branco está para o sul de Portugal como o seu equivalente rosa e branco está para o norte; onde, por tradição, regista maior número de adeptos. De um sabão português é lícito esperar todas as contradições.

(Texto publicado na edição de 11 de Setembro da Notícias Magazine, revista de domingo do DN e JN, na secção "Nostalgia".)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

CONVERSAS DE BAIRRO À VOLTA DOS LIVROS


No próximo dia 15 de Setembro (de hoje a uma semana), pelas 18h30, estarei presente na Bulhosa de Campo de Ourique para uma das "Conversas de Bairro", juntamente com a Andreia Brites e a Sara Figueiredo Costa (moderação). Tema: "Livros para crianças ou livros que também podem ser lidos por crianças?". Não se presta a esclarecimentos fáceis nem a conclusões definitivas. Mesmo assim - ou por isso mesmo - apareçam.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

O TESOURO DO RIO


O Silêncio da Água é um fragmento retirado do livro As Pequenas Memórias, evocação autobiográfica da infância e primeira adolescência de José Saramago. Descreve um episódio não extraordinário no quotidiano de um rapaz do campo: o dia em que um peixe do rio morde o isco e, depois de alguma luta, lhe arrebata os «petrechos de pesca», deixando-o com uma «cana inútil e ridícula nas mãos». O rapaz insiste, correndo a casa para «armar outra vez a cana de pesca e regressar para ajustar contas com o monstro». Valendo por si próprio, o texto ganha outra nitidez e intensidade emocional graças às ilustrações de Manuel Estrada (Madrid, 1953), que atribui à água as qualidades da escrita – as letras dispersas na torrente conduzem a essa extrapolação simbólica. A luta do protagonista transforma-se, assim, no resgatar da linguagem às profundezas do rio, sendo a cana o equivalente às ferramentas do escritor. Nesse dia, o «monstro» não volta, como é de prever. Porém, com o anzol nas guelras, à semelhança de Moby Dick, será alvo de uma perseguição incansável até que devolva a palavra certa. O que acabou por acontecer.

O Silêncio da Água
José Saramago
Ilustrações de Manuel Estrada
Caminho

(Texto publicado na edição da LER nº 105, secção “Leituras Miúdas”. Manuel Estrada, um dos mais conceituados artistas gráficos espanhóis, assina o design editorial dos livros de José Saramago na Alfaguara.)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

TUDO O QUE SEMPRE QUISEMOS SABER SOBRE SEXO (VÁ LÁ, QUASE TUDO)


A Enciclopédia da Vida Sexual foi publicada em português pela Livraria Bertrand (e também pelo Círculo de Leitores) no ano seguinte à Revolução dos Cravos. No Portugal recém-saído da casca, as capas dos cinco livros que compunham a colecção denotam uma liberdade de costumes hoje impensável. No primeiro volume, dedicado aos 7/9 anos, duas crianças nuas posam descontraidamente numa cadeira estilo Emanuelle, e no segundo (10/13 anos) correm pela praia de mãos dadas, sorridentes e felizes na sua revisitação do Paraíso. Há muito que não se vêem capas assim na secção infanto-juvenil das nossas livrarias, e nem vale a pena explicar porquê. Os autores da Enciclopédia da Vida Sexual, quatro médicos franceses, afirmavam que «nenhuma censura devia existir» e apontavam Camus, Sartre e Malraux como «modelos» para os adolescentes de então. «A educação sentimental é, antes de tudo, uma situação vivida e nada substitui a experiência pessoal», acrescentavam. Quando um livro consegue a proeza de juntar referências a Camus, Sartre e Malraux (e ainda Baudelaire, Diderot, Laclos, Fellini…), ao mesmo tempo que tenta responder a perguntas tão irrespondíveis como «qual é a razão de ser da adolescência?» ou «porquê permanecer casto?», temos obra. Por tudo o que fez pelo esclarecimento de uma geração sem acesso à internet nem aos documentários do canal Odisseia, já para não falar nos Morangos com Açúcar, a Enciclopédia da Vida Sexual merece ser erigida no cânone das leituras memoráveis, sobretudo se foram feitas às escondidas.

(Texto publicado na edição de 4 de Setembro da Notícias Magazine, revista de domingo do DN e JN, na secção "Nostalgia".)

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

SETEMBRO É TEMPO DE RECOMEÇOS


Porque o fim de uma coisa é sempre o princípio cativo de outra coisa qualquer – quantas vezes maior e mais forte –, não é com penas nem melancolias de chuva pré-outonal que O Jardim Assombrado termina o silêncio das últimas semanas para anunciar o fim de A Bruxinha, suplemento infantil do semanário Região de Leiria coordenado por Sílvia Alves – autora, contadora de histórias e uma das pessoas que mais têm contribuído para a divulgação da literatura para crianças nos últimos anos. Para a Sílvia, vai um grande abraço e o desejo de outros voos e outras latitudes. O texto que se segue corresponde à última crónica publicada no Região de Leiria, a 27 de Agosto de 2011:

“Os hábitos de leitura fazem-se de pequenos passos. Os leitores do futuro são as crianças que começam a fazer caminho. A Bruxinha começou há doze anos a falar de livros e leitura, muito antes de um PNL decretar esse caminho. Os jornais estão em reinvenção lenta de um saber fazer que pede a articulação da tradição do papel com novos caminhos que se abrem online. Os que souberem ver mais longe construirão o futuro. A rapidez da notícia viverá a par da narrativa mais detalhada mas, num ou noutro formato, não haverá jornais grátis: são feitos de pessoas e do seu trabalho que tem um preço inalienável.

Hoje, com memorandos hostis a ditar tempestades, a Bruxinha chega ao fim. No seu coração, amarrotado já de saudade, leva a esperança de ter deixado algumas sementes de bons leitores. A eles e a todos os que, em doze anos, comigo colaboraram desejo as maiores felicidades. Continuaremos a encontrar-nos nos livros e nas histórias contadas onde nascem e vivem para sempre as Bruxinhas de Papel.

Esta é também, ao fim de sete anos, a minha última crónica no Região de Leiria. O sempre e o nunca são palavras armadilhadas, neste tempo de estender mapas e descobrir novos rumos. Do fim diz Agustina: “O que resta é sempre o princípio feliz de alguma coisa". Seja.”


(Na imagem: pormenor de pintura de Fátima Mendonça, 1997.)