quinta-feira, 9 de outubro de 2008

ESCREVES PORQUE GOSTAS OU PORQUE TE DIVERTES?

Eles não sabem, mas quando vou a escolas ou a bibliotecas falar dos meus livros, fico ansiosa pelas perguntas. É a parte de que mais gosto, aquela em que espero ser surpreendida. Às vezes, não sei bem como responder aos miúdos: isso agrada-me profundamente. Aprendo com as minhas hesitações e silêncios. Eles perguntam-me tudo. Se sou casada. Se tenho filhos. Se tenho irmãos. Quantos anos tenho. Onde é que moro. Quantos livros já escrevi (várias vezes). Por que é que a Rainha Só nunca saiu do castelo? O que era “aquilo” que não se pode nomear? Começo a distinguir facilmente as perguntas que são feitas com a ajuda dos professores – para fazer “boa figura” – e as que surgem naquele instante, num assomo de espontaneidade e coragem. Nas primeiras, eles desinteressam-se e desviam o olhar quando ainda vou a meio da resposta; nas outras, fixam-me como se não admitissem mais mentiras piedosas. Eu sei. Às vezes, ser adulto é uma tristeza, um teatrinho de pechisbeque. Quando aquele miúdo me perguntou, num repente – “Escreve porque gosta ou porque se diverte?” – eu fiquei a olhar para ele com cara de peixe congelado. Diz lá outra vez: escrevo porque gosto ou porque me divirto? Hummm… Deixa-me pensar. Só quem tem ainda o sentido lúdico da vida muito apurado é que consegue distinguir assim uma coisa da outra. Sacana do puto.

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