quarta-feira, 1 de outubro de 2008

PURIFICAR OS OLHOS PELO FOGO


Acho que é sempre mais fácil dizer quais são os meus livros preferidos do que os escritores. Mas nunca hesito no nome de Flannery O'Connor. Eis o início do texto publicado na última edição do suplemento IN da Notícias Sábado:

Com O Céu é dos Violentos, a Cavalo de Ferro prossegue a edição da obra de Flannery O’Connor (1925-1964), de quem o crítico literário Harold Bloom disse ter sido “a mais original entre os contistas americanos depois de Ernest Hemingway” (Como Ler e Porquê, Caminho). “Era uma moralista tão veemente que os leitores precisam de ter cuidado com a sua tendenciosidade”, avisa também Bloom, referindo-se ao fervoroso catolicismo da escritora sulista, nascida em Savannah, Geórgia, em pleno “Bible Belt” americano. Descontando alguma ironia na advertência, é certo que o moralismo de Flannery O’Connor segue por caminhos tão pouco óbvios que a atracção é praticamente irresistível. É difícil gostar das suas personagens, presas a um orgulho e a uma rudeza impenetráveis, quase sempre transtornadas pelos excessos da fé, da razão ou do vazio intermitente que há entre ambas. Mas o “gostar” tem pouco a ver com a literatura, e é pelo assombramento que estas personagens se insinuam e se acolhem, como velhos fantasmas, na casa da memória do leitor. Um deles é Francis Marion Tarwater, protagonista de O Céu é dos Violentos.(...)


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