quinta-feira, 20 de novembro de 2008

AS NOVAS CENTRALIDADES PERDIDAS


Saí de manhã cedo e só há pouco liguei o computador, por isso as notícias dos blogues apanharam-me de surpresa. O post que coloquei ontem à noite parece-me agora uma premonitória coincidência de mau gosto. Há já algum tempo que se falava da precariedade da Byblos, mas, sinceramente, não pensei que este desfecho chegasse tão cedo. O sentimento preponderante é de tristeza e desilusão; e digo isto a partir de um lugar confortável, imaginando apenas vagamente o que estarão a passar os livreiros e outros trabalhadores que hoje tiveram de ler a palavra “encerrado”, como fotografou o José Mário Silva (e, provavelmente, tiveram de ser eles próprios a escrever e a afixar o papel…). A localização, como sabe qualquer pessoa de bom senso, foi o grande calcanhar de Aquiles da Byblos. Por muito boa vontade da florista francesa e da loja de vinhos adjacentes, aquele sítio é um corredor de vento poluído por tubos de escape, a meio de lugar nenhum. Américo Areal estava redondamente enganado quando pensou que poderia, com a Byblos, influenciar “as novas centralidades” de Lisboa, como então me explicou. Mas o problema não foi só esse, claro. No texto que escrevi para a Notícias Magazine (e não, não sou eu a “articulista” citada por Eduardo Pitta), publicado a 16 de Dezembro de 2007, ficou evidente o entusiasmo pelo novo projecto; o resto é informação, sem juízos de valor. Abstive-me apenas de reproduzir a imagem dos “camiõezinhos” cheios de dinheiro da venda da Asa, porque não quis que o homem parecesse um tonto. Outras pessoas não tiveram essas pruridos. O que me incomoda, agora, é ler a conclusão desse texto e perceber que houve aqui algo mais que ultrapassou um entusiasmo pueril e inconsciente:

“Haverá, certamente, entre os 150 mil títulos da Byblos, algum que nos explique as razões do optimismo enquanto visão do mundo. Américo Augusto Areal adianta: «Não nos podemos deixar abater com o que os outros pensam. Este é um conceito diferente, é natural que suscite dúvidas. Pensa que não as tenho? Claro que tenho! Agora, há uma coisa importantíssima: nós temos meios de gestão fantásticos para analisarmos os dados e as estatísticas e mudar o leme quando for preciso. Sem nunca alterarmos o nosso grande objectivo: o livro.»”

Onde estiveram, ao longo de um ano, esses “meios de gestão fantásticos” de que Américo Areal falava com tantas certezas? É isto que me chateia.

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