segunda-feira, 3 de novembro de 2008

LIVROS COM RUÍDO DE FUNDO


Confirma-se aquilo que o José Mário Silva já tinha dito no Bibliotecário de Babel a seguir à inauguração da FNAC Vasco da Gama: o espaço para a apresentação de livros e outros eventos culturais é abaixo de cão. Entalado entre o bar e a área de livros para crianças, é um desafio à paciência auditiva de qualquer um. Além dos spots irritantes do género “tire o cartão FNAC e ganhe dez euros”, uma pessoa tem de levar com o barulho das chávenas e o ruído de fundo espontâneo da miudagem, resultando em sobreposições do género “este é um livro em que…”/“… mamã, anda cá!”/“… as personagens femininas são todas muito…”/“olha a ovelhinha! Méééé! Méééé!”

Claro que os miúdos e pais têm todo o direito de usufruir do espaço – cada vez mais limitado, aliás – que lhes foi destinado. Os escritores e respectivos convidados não têm de tirar cursos de projecção de voz. E o público assistente não tem de levar aparelhos Sonotone. A culpa é exclusivamente de quem pensou este sítio como mais um supermercado onde, já agora, também se vendem livros. Perguntei por um e não havia. A mocinha que me atendeu estava a leste do paraíso quanto ao autor e título. “Mas sabe quando vai estar disponível?”, insisti, frente ao computador. “Não sei, talvez tênhamos (sic) para a semana.” “Como?” “Talvez póssamos (sic) ter para a semana.” “Ah, ok.”

Só mesmo por amizade e solidariedade com a “causa literária” é que se aguenta isto. Mas o essencial é: parabéns, João! E agora vou ler As 3 Vidas.

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