quinta-feira, 13 de novembro de 2008

VÍCIOS E VIRTUDES DO ALFABETO


“Se ao menos a vida fosse tão arrumada como um livro do alfabeto”. Começa assim o artigo de Becca Zerkin sobre recentes edições de livros ilustrados que utilizam o alfabeto como base de uma comunicação cognitiva e artística. Lembro, a propósito, a recolha que foi publicada no blogue da Bruaá. Um dos livros citados no NYT – pelo lado menos arrumado da vida – é The Dangerous Alphabet, de Neil Gaiman e Gris Grimley. “Divertido, assustador e confuso ao mesmo tempo”, diz a crítica. Recupero aqui o texto que saiu na secção Leituras Miúdas da LER nº 73:

The Dangerous Alphabet
Neil Gaiman
Ilustrações de Gris Grimly
Harper Collins

Atenção: o título deste livro deve ser levado à letra. Partindo de uma estrutura conhecida – a sequência do alfabeto –, conduz-nos por caminhos tortuosos onde nem as palavras são de fiar. Não é, com certeza, um livro para as crianças pequenas aprenderem a ler… The Dangerous Alphabet deve mais aos jogos perversos e ao humor negro de Edward Gorey, o autor de The Gashlycrumb Tinies (que começa com «A is for Amy who fell down the stairs»), do que às brincadeiras nonsense do Dr. Seuss e On Beyond Zebra. Neil Gaiman mergulha na sua obsessão pelos mundos paralelos, arrastando dois pequenos heróis, presumivelmente irmãos, e a sua gazela de estimação para uma aventura nos esgotos subterrâneos da cidade. Inevitavelmente, vêm à memória os cenários neo-góticos de Neverwhere – Na Terra do Nada (Presença, 2005). A galeria de personagens desenhadas por Gris Grimly, algures entre o freak show e o inferno de Dante, é prova do enorme poder da ilustração e da arte narrativa que é possível atingir quando se junta uma dupla de génio.

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