Três dias e cerca de mil quilómetros depois (nunca mais me apanham a viajar até ao Pinhão em mini-bus…), regresso ao tema em que deixei o blogue: o XVIII Encontro de Literatura para Crianças na Fundação Calouste Gulbenkian, este ano dedicado “às diferentes línguas/linguagens faladas” dos livros para crianças e designado por “Palavra de Trapos”. Confesso: não gostei do nome escolhido. Apesar de ter ficado explícita a relação etimológica entre “texto”, “tecido”, “tecer”, “entrelaçamento” – sobretudo depois da intervenção de Ana Paula Guimarães, directora do Instituto de Estudos de Literatura Tradicional –, a ressonância da palavra “trapos” continua a ser mais forte, para mim. Trapos são restos, farrapos, sobras, pedaços de tecido barato, um material pobre. A literatura, incluindo aquela que damos a ler às crianças, deve ser o contrário disso, o contrário de todos esses livros feitos de “línguas de trapos”. Numa altura em que esta área ainda está a conquistar a sua legitimação, pergunto-me se o título “Palavra de Trapos” será o mais eficaz e apelativo, quando se trata de contrariar essa ideia generalizada de que para as crianças tudo serve, desde que tenha letras grandes e muita bonecada.
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