sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O FIM DA CAMPO DAS LETRAS


A acontecer o que já se falou aqui e aqui, é uma notícia triste também para o livro infantil. A Campo das Letras é uma das editoras que mais tem apostado neste segmento, contribuindo para a sua expansão desde meados da década de 1990. Publicou muitos e bons autores, abarcando consagrados (Manuel António Pina, Ana Saldanha, António Torrado, Álvaro Magalhães, Ana Luísa Amaral, Mário Cláudio, Eugénio de Andrade e tantos outros) e estreantes, risco que as grandes editoras raramente se mostram dispostas a correr, preferindo os nomes que “vendem”. Cito apenas dois: Maria Leonor Barbosa Soares, no texto (O Cão Triangular) e Inês de Oliveira, na ilustração (A Montanha da Lua, Sopa de Pedra). Na tradução, as várias séries da Colecção Larousse adaptadas aos mais pequenos, bem ilustradas e divertidas, permanecem como referência. Mas não importa apenas fazer livros, é preciso saber divulgá-los, sem sovinices injustificadas, e isso é algo que a Campo das Letras também sabe fazer. Com o Nuno Seabra Lopes e depois com a Cláudia Abreu, tudo rolou naturalmente, até numa altura em que não era suposto: quando fui editora do Netparque, em 2000 e 2001, receber livros tornou-se um castigo (“Para a Internet não mandamos”, era a resposta mais comum), e até neste pormenor a editora de Jorge Araújo fez a diferença. Não há mesmo maneira de adiar o fim do mês?

Na imagem: Polegarzinho, de João Paulo Seara Cardoso, com ilustrações de Júlio Vanzeler (Campo das Letras, 2002)

3 comentários:

Márcio Almeida Júnior disse...

Carla,
Estou vivamente impressionado. Navego pela blogosfera portuguesa e tenho nela muitos amigos diletos. Mas este é, de longe, o mais interessante blogue para quem gosta de literatura, música e cinema. E o de mais bom gosto. Parabéns.

Nocturna disse...

O que está a acontecer às editoras em Portugal é uma tragédia, que atinge todos os portugueses que se interessam pela cultura.Em primeiro lugar os trabalhadores dessas editoras, mas também os autores e os leitores em geral.
Depois das compras que foram feitas em 2007, a que chamaram fusão dizendo que esse seria o futuro, o que assistimos foi à completa descaracterização das editoras. Chocante foi a destruição da Caminho
embora em tese ainda exista. Conheço pessoas que sofreram na pele esse processo e acho que foi um horror o que aconteceu.
Agora vimos a saber o que vai acontecer à Campo das Letras, é mais uma machadada na cultura em Portugal.Quando esta gente que neste momento é dona das maiores editoras em , resolver retirar-se e ir "investir" noutro produto que é que nos restará ?
Um abraço nocturno e desanimado

Carla Maia de Almeida disse...

Márcio, obrigada. Este e outros comentários generosos dos leitores deixam-me um bocadinho sem jeito, mas vou tentar merecê-los, um dia de cada vez...