quarta-feira, 11 de março de 2009

ANTÓNIO BARRETO À LER


Só agora li a entrevista de António Barreto a Carlos Vaz Marques, publicada na última LER. Alguns excertos à volta da frase da polémica:

[Sobre a escola]
A escola foi uma ajuda muito madrasta da leitura, em Portugal. Não esteja à espera de um discurso nostálgico a elogiar o tempo da minha juventude porque eu vou dizer-lhe o contrário. Se não fosse a minha família – o meu pai, a minha mãe, as minhas tias, os meus avós – e se não fosse um ou dois professores cujos nomes mais de 50 anos depois eu recordo, a escola não me tinha ajudado. A escola do meu tempo não incitava à leitura. Os que gostavam de ler era por outras razões, não era por causa da escola.

E a escola de hoje?
Passaram 50 anos e, por razões diferentes, a escola de hoje destrói a leitura. Seja com a análise estruturalista e linguística dos textos, seja pela ideia de que a escola tem de ser mais acção e tem de ser mais projecto e mais mil coisas que fazem a nova escola. A leitura na escola é a última das preocupações.

[Sobre o Magalhães]
Da maneira como o Governo aposta na informática, sem qualquer espécie de visão crítica das coisas, se gastasse um quinto do que gasta, em tempo e em recursos, com a leitura, talvez houvesse em Portugal um bocadinho mais de progresso. O Magalhães, nesse sentido, é o maior assassino na leitura em Portugal. Chegou-se ao ponto de criticar aquilo a que chamaram ‘cultura livresca’. O que é terrível. É a condenação do livro. Quando o livro é a melhor maneira de transmitir cultura. Ainda é a melhor maneira. A coroa de todo este novo aparelho ideológico que está a governar a escola portuguesa – e noutras partes do mundo – é o Magalhães. Ele foi transformado numa espécie de bezerro de ouro da nova ciência e de uma nova cultura, que, em certo sentido, é a destruição da leitura.

2 comentários:

margarida disse...

Esta revista é viciante e a cada número encontro 'adições' mais irresistíveis...
E este senhor é fantástico.
Ler a 'Ler'!

rui disse...

O facto de também gostar da revista não me impede de achar a frase do AB um diaparate.
Se a entrevista tivesse sido feita uns meses antes do Magalhães certamente que o AB não deixaria de fulminar outro qualquer "maior assassino". E isto se não garantisse que pura e simplesmente a leitura já estava morta em Portugal à muito tempo, o que se depreende, aliás, de outras passagens da entrevista.
Há os problemas "estruturais" de Portugal, as confusões com o Maglhães e sobretudo esta mentalidade da critica mesquinha cultivada por aqueles que passam por ser os nossos maiores intelectuais.