Delicadeza e rugosidade: as duas palavras que me ocorrem para definir Dream of Life, o filme de Steven Sebring sobre Patti Smith – ou melhor, o filme de Patti Smith sobre todas as pessoas, vivas e mortas, que compõem o seu mundo precioso. Patti a tocar numa velha Gibson com um Sam Shepard desdentado. Patti com os pais, já idosos, numa casa modesta rodeada de árvores e esquilos. Patti com os membros da banda e amigos como Michael Stipe e Philip Glass. Patti aplaudida por milhares de pessoas, a cantar, a dizer poesia ou a gritar contra George Bush. Patti com os dois filhos e os seus mortos, os mortos que dão sentido à frase “toda a gente traz um cadáver amarrado ao pulso”: Robert Mapplethorpe e Fred “Sonic” Smith, companheiros de guerra; o irmão, com quem tinha uma ligação profunda; Burroughs, Blake, Rimbaud e todos os que evocam a espiritualidade da arte e vivem agora à volta dela, como gatos passeando-se pelas redondezas de um jardim. É talvez isso que mais impressiona: como se pode viver rodeado de perdas terríveis e, ainda assim, não perder a inteireza e a integridade. Amo esta mulher, de verdade que amo.
Fotografia de Robert Mapplethorpe para a capa de Horses.
2 comentários:
Um filme obrigatório para ir ver este fim-de-semana.
Yep! Infelizmente só está em Lisboa e num único cinema: City Classic Alvalade. Mesmo à saída do metro...
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