sexta-feira, 13 de março de 2009

OS QUE FICAM

Eu não conheci o João Mesquita. Troquei umas palavras com ele o ano passado, num encontro de freelancers promovido pelo Sindicato dos Jornalistas, onde alguém me chamou “jornalista da velha guarda”, a propósito já não sei de quê. “Mas eu só tenho 39 anos”, contestei, ao que a mesma pessoa anuiu, indiferente à minha estupefacção: “Pois… Da velha guarda”. Ok. Não me aborrece nada ser considerada “da velha guarda”, muito pelo contrário, mas há algo de inquietante quando um jornalista de vinte e tal ou trinta anos faz esse juízo tão desmemoriado. O João Mesquita, sim, era da velha guarda. Ele e o Torcato Sepúlveda, o Rodrigues da Silva e, a seu modo, a Tereza Coelho, para lembrar algumas pessoas que desapareceram há pouco e deixaram o jornalismo ainda mais pobre do que está. Também eu gostava de lhes prestar homenagem, dizer aqui qualquer coisa de sentido, de verdadeiro, como sempre vejo noutros blogues. Mas não posso, porque não tive a sorte de trabalhar com eles, de almoçar com eles, de tomar café com eles no corredor de um jornal. Essa é a única mágoa que tenho de ser freelancer: paga-se muito caro o preço do individualismo. Quando alguém como o João Mesquita desaparece, desaparece mais um pouco dessa ilusão já antiga: que um dia ainda vou ter a sorte de aprender com os da velha guarda.

2 comentários:

Nocturna disse...

É verdade Carla,
O mundo está muito áspero.
De repente vamos perdendo pessoas que eram referência,do meio da cultura e que nos tínhamos habituado a admirar,e, mesmo que estivessemos muito tempo sem lhes falar,saber que eles estavam lá no seu posto , era como ter um farol, um ponto de referência, um exemplo a tentar seguir . Eles deixam-nos.
Que vai ser de nós ?
Um abraço
Nocturna

Anónimo disse...

Que direi eu que não sou precária por escolha própria! Sempre gostei destes jornalistas da 'velha guarda'. Talvez porque soubesse q aoesar dos meus 39 anos (q na altura eram bem menos) tinha algo em comum com eles. Talvez por isso continue fora das redacções. E agradeço a esse encontro de precários ter-me dado a conhecer o João Mesquita. Ter podido compartilhar com ele o que tínhamos em comum. Só não esperei que fosse por tão pouco tempo...
(Myriam)