terça-feira, 23 de junho de 2009

VAMOS INDO E VAMOS VENDO

Desde miúda que ouço esta expressão muito lá do Norte: “Vamos indo e vamos vendo.” Aplica-se às mais diversas situações, conjugando uma certa aptidão cautelosa com a inevitabilidade da acção concreta, ainda que formulada no gerúndio. Se apenas fôssemos “indo”, cairíamos em atitudes irreflectidas. Se, pelo contrário, nos limitássemos a ir “vendo”, acabaríamos por fazer coisa nenhuma. Assim, enquanto “vamos indo e vamos vendo”, a vida faz-se e ninguém nos pode acusar de má vontade. Exemplo: uma pessoa tem uma grave doença crónica, mas não desiste; vai indo e vai vendo, evitando prognósticos definitivos. A maionese está a ficar deslaçada, mas continuamos a adicionar azeite; vamos indo e vamos vendo, para depois cantar vitória ou enfiar tudo no lixo. O novo namoro está a revelar-se uma desilusão, mas ainda não perdemos totalmente a paciência; vamos indo e vamos vendo, até que a criatura revele a sua verdadeira natureza. E assim por diante. Ir indo e ir vendo é uma boa estratégia para evitar desistir à primeira, à segunda, ou mesmo para o resto da vida.

1 comentário:

Catarina Barros disse...

Que giro, há uma música do Nuno Prata, ex-Ornatos Violeta, que tem um refrão assim: vamos cantando e rindo. Assim que li este post associei a esta música, não sei bem porquê. Mas. É como se esse ir cantando e rindo fosse uma forma optimista de vamos lá, depois logo se vê. Um ânimo levezinho, que não é coisa boa, mas que às vezes parece a única alternativa E o Nuno é do Porto! :)