A pobre da Louisa May Alcott não teve uma vida fácil, à semelhança das suas bondosas e mui cristãs Mulherzinhas, que não tinham outro remédio se não ir a bailes com vestidos remendados e poupar na lenha durante o Inverno. Filha de pais excêntricos, influenciados pelo pensamento transcendentalista de Nova Inglaterra, foi obrigada aos 11 anos a viver numa comunidade alternativa onde o recurso a animais era totalmente proibido, fosse para alimentação ou qualquer outra forma de aproveitamento. Seriam o que hoje se chama vegans. Antes de que a fome, o frio e as doenças os extinguissem, a comunidade Fruitland (nome da coisa utópica) decidiu extinguir-se a si própria em menos de seis meses. Louisa May Alcott sobreviveu, felizmente para ela, os pais e mais três irmãs, desunhando-se depois a trabalhar para sustentar a família, escrevendo e não só. Durante a Guerra Civil, como enfermeira, contraiu pneumonia ou febre tifóide, submetendo-se a um tratamento à base de mercúrio que a envenenou até à raiz dos cabelos. Nunca recuperou da cura. Para apaziguar as sequelas, começou a tomar láudano, composto à base de ópio que lhe amenizava as noites e providenciava matéria subtil para engendrar histórias de cordel góticas. Várias das personagens dos contos que criou sob pseudónimos sugestivos – A. M. Barnard, Aunt Weedy, Flora Fairfield, Oranthy Bluggage e Minerva Moody – são consumidores voluntários de ópio e haxixe, mulheres inclusive. Caso para dizer que “há males que vêm por bem”. Para saber mais sobre estes e outros lugares obscuros da mente dos grandes escritores recomendo, como leitura de férias, Secret Lives of Great Authors, de Robert Schnakenberg (“What Your Teacher Never Told You About Famous Novelists, Poets and Playwrights”). Um bocadinho de gossip e escandaleira faz parte da silly season. E pelo meio aprendem-se umas coisas.
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