Esta é a última página da secção de livros da Notícias Magazine, “Agulhas em Palheiro”, tal como foi feita nos últimos dois anos e qualquer coisa. Acabou. Não sei se definitivamente, se apenas por algum tempo, mas não voltará a sair com a assinatura da Cláudia Moura, que deixou não só a revista de domingo do DN e JN como o próprio jornalismo (até ver, pelo menos). Eu fico feliz e fico triste, mas muito mais feliz do que triste, sem dúvida. Na verdade, talvez ela nunca tenha sido uma jornalista na acepção mais corrente do termo. Sei que o frisson do deadline nunca a empolgou, que o habitat competitivo da redacção não lhe estimulava a escrita, que precisava de tempo e de silêncio para pensar e escrever os seus melhores textos. Tendências pouco gratas nos tempos que correm, está bem de ver, porque importa mais ter cronistas e comentadores contratados a peso de ouro e contar os tostões para tudo o resto que ainda se pareça com jornalismo. Felizmente, a Cláudia livrou-se disso e do pior que está aí para vir. Os leitores da Notícias Magazine, que não são fashion nem trendy, nem tão pouco representam a inteligentsia, vão ficar sem uma página semanal de livros feita com empenho e seriedade, que revelava sempre uma visão de autor e um acautelamento constante em relação aos lugares-comuns. Perdem-se, também, excelentes entrevistas a escritores e não só, um género jornalístico em que ela estava particularmente à vontade, discreta mas acutilante – como uma agulha em palheiro, nem mais nem menos.
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1 comentário:
Talvez por não ser jornalista strito sensu, a Cláudia assinou maravilhosas entrevistas além de referência a livros e reportagens que a tornaram sem favor alguém que vale a pena conhecer e ler.
Agora ela vai fazer outra coisa de que goste e daqui a um quase nada vamos reparar outra vez nela, esquecidos aqueles que a não entenderam e por isso fizeram mal apenas a si mesmos.
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