Desde que li este post do Senhor Palomar, comecei a elaborar distraidamente uma lista de filmes de amor que não acabam em happy end. Casablanca é um clássico da arte de perder com dignidade, sem lágrimas, sem chantagens, sem a estúpida e miserável autocomiseração. Mas a maior parte de nós tende para o filme francês, ao mesmo tempo que se engana com comédias românticas, sem chegar a perceber nada do que é o amor. Passada a adolescência, não há livros nem versos de Eugénio de Andrade que nos salvem. Com um bocado de sorte, talvez possamos confiar no envelhecimento e aspirar à sabedoria das pedras, que tudo observam sem julgar. Às vezes, nem isso. Ontem voltei a ver Brokeback Mountain, um desses filmes de amor que não acabam em happy end, e em que cada instante de felicidade é saboreado com a antecipação de um amargo de boca. O que a história de Ennis Del Mar e Jack Twist tem de mais tocante, para mim, não resulta tanto da crueldade e violência dos homens, antes desse estado de perda continuada ao longo do tempo, cerca de vinte anos de breves encontros em direcção a uma perda irreparável. É muito difícil sobreviver a isso. A morte-em-vida de Ennis Del Mar e o linchamento de Jack Twist são as duas faces da mesma moeda, o último lance de um jogo de azar. Porque nem sempre há uma causa nobre a defender, um avião à nossa espera, ou o princípio de uma bela amizade. No fim, sobram apenas duas velhas camisas guardadas num armário, e a esperança de que o ar não as devore tão cedo. Mas é uma luta inglória. Talvez um pouco como o amor.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário