segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O PORTUGAL DA PORRA


Miguel Sousa Tavares, o mesmo que acha estranho que haja quem se preocupe com as “condições psicológicas” em que vivem os animais domésticos (as aspas são dele), preferindo certamente assobiar para o lado quando sabe de um cão fechado na varanda ou na casa de banho durante dias a fio, insurgiu-se na sua última crónica no Expresso contra a nova lei respeitante aos animais no circo. Diz ele, alcandorado no sarcasmo confortável das elites:

“Eis mais um retumbante triunfo da cultura urbana, moderna e civilizada. Porque o fundo da questão está no que diz Victor Hugo Cardinali – um honrado nome de uma família que tem feito sonhar gerações e gerações de crianças, com os seus tigres, leões e elefantes, saídos da televisão e dos joguinhos de computador para a tenda do circo: «Eu também posso fazer algo como o Cirque do Soleil, para os intelectuais de Lisboa e do Porto. Mas experimentem levar isso a Portalegre e eles vão perguntar ‘que porra é essa?’». É contra este Portugal da porra que em boa hora surgiu a portaria a defender as centopeias, os aligators e também, já me esquecia, os nandus e os crotalos.”

Que fique sossegado o “Portugal da porra”, porque ainda não é desta que Victor Hugo Cardinali vai averiguar que porra é essa do teatro-circo, nem dar emprego aos alunos da porra da escola do Chapitô. Ele sabe que “a cultura do povo português não passa por aí”, afirmou-o na entrevista que o jornal i puxou para a capa, com um título a tresandar a demagogia: “Os meus animais são mais bem tratados que os pobres deste país.” Mais esclarecimentos no excerto que se segue:

“Mas os circos estão condenados?
Muitos circos pequenos sim, mas eu não tenho nada a ver com isso. [o altruísmo de um honrado nome de uma família]
E o circo enquanto arte?
Nesse sentido acho que sim, porque o que traz as pessoas ao circo são os animais. [a sabedoria de um honrado nome de uma família]
Há o argumento de que podia haver mudanças, como quando se deixou de usar mulheres barbudas e anões…
Este ano vou trazer outra vez anões. Nos circos lidamos com os anões como um ser humano qualquer. E os cegos que andam todos a pedir em Lisboa, porque são cegos? Não é discriminação? Os ceguinhos deste país deviam ser acolhidos por quem de direito. É uma hipocrisia, uma fantochada. [o progressismo de um honrado nome de uma família]”.

P.S. - No meio desta confusão de alhos e bugalhos, só uma coisa me intriga: quem é o nandu e quem é o crotalo?

7 comentários:

Ana Teresa disse...

Sim, a expressão "alcandorado no sarcasmo confortável das elites" é divinal. Simplesmente: certeira. O que fazemos aos animais conta muito sobre nós, enquanto humanos. Confesso que nunca me encantou ver os animais no circo, lembro-me de pensar como me pareciam tristes...

Saki disse...

Querida Carla,

permita-me divulgar este seu post, no meu blogue e por email, com os devidos créditos ;)
Obrigada por este momento de catarse.
Susana

Carla Maia de Almeida disse...

Be my guest...

Unknown disse...

Não diria melhor que a Ana Teresa por isso só me resta aplaudir o seu comentário.
No contexto das práticas circenses gostaria de deixar a seguinte deambulação/provocação com a ideia de que a tradicional representação do palhaço rico e do palhaço pobre deveria ser banida, passando a figurar, talvez, num manual de história/sociologia/etnologia das práticas performativas já extintas. A violência explícita e implícita são de tal magnitude mas, simultaneamente, de tal pertinência metafórica que só aos espíritos adultos deveria ser permitido contemplar.
No meu caso o circo não encantava, pelo contrário, havia como que um sentimento de desconforto.
A autora tem razão: O talento e a formação de qualidade nestas artes existem mas têm sido menosprezados...

Catarina disse...

Esse MST não é aquele que diz que somos todos saloios?
Ele que fique lá no Brasil e não volte mais, e preferencialmente que fique lá com os seus livros pra não poluir as livrarias de cá!!

Jorge disse...

Já não há pachorra para aturar esse MST.

Maria L Filipe disse...

Ola !!!
Eu era fã desse senhor até algum tempo atras... Mas desiludiu-me logo na lei do tabaco !!!
Redimiu-se (para mim) na história dos contentores de Lisboa....mas agora com esta, será de dificil um perdao!!!!
Mas como MST existe muita e muita gente com vistas curtas ... SO PODEM SER VISTAS CURTAS !!!
Há dias em conversa com minha mãe e irmã ...minha irmã disse com um ar muito natural que não via mal nenhum nos animais de circo, desde que não fossem mal tratados!!!!!! Quando lhe expliquei que o facto de elels estarem presos, viajarem, treinarem, etc..ja por si é um Mau trato... a resposta dela foi...porque é que eu tinha uma gata em casa??
Eu que achava ter uma irma moderna e justa, descobri que é apenas mais uma com a vista muito tapada, dos que so veem aquilo que os ensinaram a ver... Enfim... Perdoa-me o Comentário ser tao extenso....
Sou Vegetariana ha apenas dois anos e meio, tenho 42 anos...mas quem nos dera que todos VISSEM a REALIDADE como eu VEJO .
Lutar pelos direitos de um animal , é de certo modo lutar pelos nossos próprios direitos ...ou não será?!?!?
Um Abraço
Maluxa