Stonefield é um retiro para escritores em pleno british countryside, onde a inspiração se cultiva em camas com edredões de penas, sestas à lareira, tartes de fruta e comida orgânica. Se tudo isso não chegar, há sempre uma taça de vinho ao fim da tarde e o pub local, onde o gossip literário e não só se põe em dia. Por trás deste cenário privilegiado, há especulação imobiliária e adolescentes a envelhecer de tédio nas paragens de autocarro abandonadas, cujas maiores diversões consistem em atirar ovos aos automóveis e assustar as vacas que pastam no prado. Fuma-se muito. O campo é um deserto de ideias e de sentimentos sólidos – e se os adultos se entretêm com o adultério, a intriga e a má-língua, os adolescentes sonham com a vida das celebridades e “snifam” latas de aerossol quando precisam de um bom kick. Não é um retrato simpático, este que Posy Simmonds publicou em banda desenhada nas páginas do The Guardian e mais tarde passou a livro (ed. Jonathan Cape, 2007). Tamara Drewe, uma beldade esculpida a bisturi que aterra em Stonefield e de quem vagamente se pode dizer que é jornalista (mas também quer escrever dois ou três romances antes dos 35 e, claro, fazer um livro para crianças), é uma daquelas personagens que irritam do princípio ao fim. Os escritores não se saem melhor do retrato. Egocêntricos, egoístas, invejosos, arrivistas, vaidosos, autoindulgentes e mentirosos, não têm problemas em conciliar o homicídio involuntário com a escrita de best-sellers. OK. Já tive a minha dose de cinismo para as próximas semanas. Resta lembrar que Stephen Frears vai adaptar Tamara Drewe ao cinema, com a Bond girl Gemma Arterton no papel principal. Tem todas as condições para ser um bom filme.
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2 comentários:
"parece"...?
nunca tinha ouvido falar dessa história...
até porque nunca achei que escritores fossem uma "classe" de "elite"...não se ganha tanto dinheiro quanto se pensa...
Cara leitora, o título deste post foi roubado a um livro de John Cheever e é uma ironia em relação ao cenário bucólico em que se passa a história. Quanto à ideia de os escritores não serem uma classe de elite e de não ganharem "tanto dinheiro como se pensa", não podia estar mais de acordo, hélas!
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