Com o título “Alice no País das Quê?”, saiu na Notícias Magazine do último domingo um breve guia das personagens das “Alices”, do qual deixo aqui um extracto e o link para a página do Scribd, onde pode ser lido o texto completo e profusamente ilustrado pelo senhor John Tenniel.
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Coelho Branco
Tal como a lebre, o coelho é considerado um dos tricksters do mundo animal, uma figura ambígua no seu carácter e comportamento. Não admira, por isso, vê-lo como ajudante da terrível Rainha de Copas, mostrando-se subserviente, quando antes fora arrogante com os seus empregados, Pat e Bill. Mais importante, talvez, é lembrar que os tricksters actuam muitas vezes como mensageiros junto dos homens, conduzindo à mudança e ao crescimento. Sem o impulso não racionalizado de seguir o Coelho Branco na sua correria atrasada, Alice não teria entrado na toca, caído no túnel e conhecido o País das Maravilhas. Assim lhe foi apresentado, pelo menos.
Dodó
É quase certo que o célebre pássaro das Ilhas Maurícias, perseguido pelos marinheiros europeus até à extinção, no século XVII, seja uma projecção de Lewis Carroll/Charles Lutwidge Dodgson, que sofria de gaguez («Do-do-Dodgson» fazia parte do seu cartão de visita). Uma das explicações etimológicas de «dodó» vem do português «doudo», ou seja, «doido», o que também não lhe assenta mal. O dodó é um dos animais que cai dentro do lago formado pelas lágrimas de Alice, no segundo capítulo de Alice no País das Maravilhas. Sendo a água um elemento que simboliza as emoções, por excelência, uma leitura psicanalítica deste episódio notará a «perdição» de Lewis Carroll por Alice Liddell, a menina de dez anos para quem escreveu as histórias.
Duquesa
É a personagem mais feia de Alice no País das Maravilhas, além de agressiva com o bebé-porco, obcecada pela moral e partidária do «cortem-lhe a cabeça!». Há quem veja nela uma representação da mãe da Rainha Vitória, o que explica o pouco talento para a maternidade, bem como o seu antagonismo final com a Rainha de Copas.
Gato de Cheshire
Um dos raros habitantes do País das Maravilhas que não hostiliza Alice, mesmo não sendo de fiar. O gato sorridente (alarvemente sorridente) que aparece e desaparece tem uma explicação para a sua assumida loucura: «o cão rosna quando está zangado e abana a cauda quando está contente. Já eu, rosno quando estou contente e abano a cauda quando estou zangado. Por isso, sou maluco». Não há prova de que os gatos do condado de Cheshire sejam diferentes dos outros, nem qual a origem da expressão «sorrindo como um gato de Cheshire», mas Lewis Carroll gostou da ideia e contribuiu para a fama do felino tigrado.
Humpty Dumpty
Vaidoso, susceptível e bastante ridículo, o Humpty Dumpty é o intelectual redondo como um ovo que insiste em dar a Alice lições de gramática e semiótica, em Alice do Outro Lado do Espelho. Sentado num muro alto, em equilíbrio precário, o Humpty Dumpty não foi inventado por Lewis Carroll, que decerto terá convivido com espécimes igualmente incomodativos. Curiosamente, a personagem está ausente do filme de Tim Burton. Que pena.
Jabberwocky
«Era acendefogoahora e os plantuosos taxugantes/Girandavam e furandavam na passerva/Todos infláveis os burugaves/Foralar os xuralecos dentafidavam.» A tradução da Europa-América pode não ser das mais consistentes, mas não é fácil compreender "Jabberwocky", um poema original de Lewis Carroll que figura em Alice do Outro Lado do Espelho e hoje é dado nas escolas como um dos melhores exemplos do nonsense na literatura inglesa. No livro, Alice não o consegue decifrar. O próprio autor confessou-se incapaz de explicar muitos dos cruzamentos de palavras inventadas (brillig, slithy, gyre, wabe, etc.) para descrever o dragão horrendo que, no filme, cabe a um decano dos papéis de vilão: Christopher Lee, o mago Saruman de O Senhor dos Anéis. Nesta charada linguística em verso surgem as primeiras referências à Espada Vortal e ao monstruoso Bandersnatch, também recuperadas pela versão de Tim Burton.
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Coelho Branco
Tal como a lebre, o coelho é considerado um dos tricksters do mundo animal, uma figura ambígua no seu carácter e comportamento. Não admira, por isso, vê-lo como ajudante da terrível Rainha de Copas, mostrando-se subserviente, quando antes fora arrogante com os seus empregados, Pat e Bill. Mais importante, talvez, é lembrar que os tricksters actuam muitas vezes como mensageiros junto dos homens, conduzindo à mudança e ao crescimento. Sem o impulso não racionalizado de seguir o Coelho Branco na sua correria atrasada, Alice não teria entrado na toca, caído no túnel e conhecido o País das Maravilhas. Assim lhe foi apresentado, pelo menos.
Dodó
É quase certo que o célebre pássaro das Ilhas Maurícias, perseguido pelos marinheiros europeus até à extinção, no século XVII, seja uma projecção de Lewis Carroll/Charles Lutwidge Dodgson, que sofria de gaguez («Do-do-Dodgson» fazia parte do seu cartão de visita). Uma das explicações etimológicas de «dodó» vem do português «doudo», ou seja, «doido», o que também não lhe assenta mal. O dodó é um dos animais que cai dentro do lago formado pelas lágrimas de Alice, no segundo capítulo de Alice no País das Maravilhas. Sendo a água um elemento que simboliza as emoções, por excelência, uma leitura psicanalítica deste episódio notará a «perdição» de Lewis Carroll por Alice Liddell, a menina de dez anos para quem escreveu as histórias.
Duquesa
É a personagem mais feia de Alice no País das Maravilhas, além de agressiva com o bebé-porco, obcecada pela moral e partidária do «cortem-lhe a cabeça!». Há quem veja nela uma representação da mãe da Rainha Vitória, o que explica o pouco talento para a maternidade, bem como o seu antagonismo final com a Rainha de Copas.
Gato de Cheshire
Um dos raros habitantes do País das Maravilhas que não hostiliza Alice, mesmo não sendo de fiar. O gato sorridente (alarvemente sorridente) que aparece e desaparece tem uma explicação para a sua assumida loucura: «o cão rosna quando está zangado e abana a cauda quando está contente. Já eu, rosno quando estou contente e abano a cauda quando estou zangado. Por isso, sou maluco». Não há prova de que os gatos do condado de Cheshire sejam diferentes dos outros, nem qual a origem da expressão «sorrindo como um gato de Cheshire», mas Lewis Carroll gostou da ideia e contribuiu para a fama do felino tigrado.
Humpty Dumpty
Vaidoso, susceptível e bastante ridículo, o Humpty Dumpty é o intelectual redondo como um ovo que insiste em dar a Alice lições de gramática e semiótica, em Alice do Outro Lado do Espelho. Sentado num muro alto, em equilíbrio precário, o Humpty Dumpty não foi inventado por Lewis Carroll, que decerto terá convivido com espécimes igualmente incomodativos. Curiosamente, a personagem está ausente do filme de Tim Burton. Que pena.
Jabberwocky
«Era acendefogoahora e os plantuosos taxugantes/Girandavam e furandavam na passerva/Todos infláveis os burugaves/Foralar os xuralecos dentafidavam.» A tradução da Europa-América pode não ser das mais consistentes, mas não é fácil compreender "Jabberwocky", um poema original de Lewis Carroll que figura em Alice do Outro Lado do Espelho e hoje é dado nas escolas como um dos melhores exemplos do nonsense na literatura inglesa. No livro, Alice não o consegue decifrar. O próprio autor confessou-se incapaz de explicar muitos dos cruzamentos de palavras inventadas (brillig, slithy, gyre, wabe, etc.) para descrever o dragão horrendo que, no filme, cabe a um decano dos papéis de vilão: Christopher Lee, o mago Saruman de O Senhor dos Anéis. Nesta charada linguística em verso surgem as primeiras referências à Espada Vortal e ao monstruoso Bandersnatch, também recuperadas pela versão de Tim Burton.
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