quinta-feira, 22 de abril de 2010

O LEV E A NOIVA ARMADILHADA


A nuvem de cinzas vulcânicas fez os seus estragos. Que uma série de escritores tenham sido impedidos de viajar para Matosinhos, a fim de participarem na quinta edição do LEV - Literatura em Viagem, não deixou de ser uma ironia. “Estamos a viver um momento de ficção”, como afirmou Cândida Pinto na primeira mesa do encontro, onde deveriam ter estado também o jornalista inglês Robert Fisk e os escritores Mimmo Cándito (Itália) e Hubert Haddad (Tunísia). Além da jornalista da SIC, Carlos Vale Ferraz e José Mário Silva (moderador) compunham o painel subordinado ao tema “Literatura e Guerra”. De improviso, sem experiência pessoal de conflitos bélicos – mas com curiosas histórias de família para contar – José Fanha juntou-se àquela que acabou por ser, creio, uma das mesas mais interessantes do LEV. Os episódios de jornalismo de guerra narrados por Cândida Pinto foram extraordinários. Ficou na memória a imagem constrangida da noiva de vestido branco e bouquet de flores de plástico, sentada num sofá de napa vermelho de um hotel de Bagdad, durante a guerra no Iraque. “Todos os soldados e seguranças olhavam para ela como se fosse uma noiva armadilhada”, contou. Não me admirava se o José Mário Silva estivesse já a escrever um conto à volta deste cenário.

(Na imagem acima, um mapa de Matosinhos. O percurso assinalado a vermelho representa uma das minhas primeiras e mais entusiasmantes viagens: de casa dos meus avós até à praia de Matosinhos, onde nos anos 1970 ninguém se preocupava com coliformes e bolas de Berlim vendidas ao sol.)

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