Um dos sonhos de qualquer criança que cresceu a ver televisão portuguesa nos anos 1970, praticando zapping entre dois canais, era ter um pijama vagamente parecido com os uniformes do Espaço: 1999. O outro era ser a Maya, ser amiga da Maya ou mesmo propor-lhe namoro, se as sobrancelhas ao estilo Frida Kahlo e as patilhas rockabilly não constituíssem entrave estético. Mas vamos aos uniformes, primeiro. É importante notar que não se assemelhavam a fatos de treino berrantes comprados na feira de Moscavide, como os de outras séries de ficção científica que se seguiram. Pelo contrário, exibiam uma elegância distinta, à imagem do Comandante John Koenig (Martin Landau) e da Dra. Helena Russel (Barbara Bain), que também formaram um casal invejável durante 36 anos, fora da Base Lunar Alfa. Bem vistas as coisas, comer a poeira da Lua não devia ser assim tão mau quando se habitava um lugar onde até havia um solário (é claro que, aos 7 anos, não fazíamos ideia da utilidade da coisa) e moças de biquíni e saltos altos que se passeavam por corredores de um branco virginal. Maya, a cientista do planeta Psychon adoptada pela Base Lunar Alfa, encarnava o lado selvagem e sensual da comunidade. O seu uniforme incluía minissaia e botas de cano alto; mas, mais importante do que isso, tinha o dom de se transformar numa pantera, num gorila ou num monstro nojento escorrendo baba e verdete, levando ao extremo a conhecida duplicidade feminina. Tinha pinta, a Maya. E depois, naquela altura, 1999 parecia tão longe que ninguém se imaginava com 30 anos, quanto mais com 40.
(Texto publicado na edição de 21 de Novembro da Notícias Magazine, revista de domingo no DN e JN, na secção "Nostalgia".)
(Texto publicado na edição de 21 de Novembro da Notícias Magazine, revista de domingo no DN e JN, na secção "Nostalgia".)
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