«Uma criança é uma criança, não é um pateta», disse Sophia de Mello Breyner Andresen. Num depoimento recolhido por Luísa Ducla Soares e integrado na obra A Antologia Diferente: De Que São Feitos Os Sonhos (Areal Editores, 1985), Sophia fala com desassombro das razões que a levaram a escrever para crianças: uma crise de sarampo dos filhos, a necessidade de os entreter com histórias e a constatação «da pieguice da linguagem» nos livros da época, arregimentados aos valores paternalistas das décadas de 1940 e 50. «Atirei os livros fora e resolvi inventar. Procurei a memória daquilo que me tinha fascinado na minha própria infância. (…) Nas minhas histórias para crianças quase tudo é escrito a partir dos lugares da minha infância.»
A casa e a praia da Granja, em Espinho, são revisitadas em A Menina do Mar, no início de um percurso que Maria Luísa Sarmento de Matos denominou Os Itinerários do Maravilhoso (Porto Editora, 1993). Toda a obra lírica e narrativa de Sophia é indissociável dessa dimensão literária e estética que emerge da consciência do maravilhoso, construindo um discurso mágico e profundamente simbólico. Não a magia banalizada dos actuais produtos literários sucedâneos, mas uma magia imanente à ordem da natureza e à ética do ser. A Fada Oriana, publicada no mesmo ano que A Menina do Mar (1958), reflecte a dicotomia do bem e do mal substituindo o maniqueísmo vigente pela demanda de um humanismo pleno, desta vez no espaço simbólico do bosque, subjacente aos contos de fadas – e à vivência de Sophia na Quinta do Campo Alegre, no Porto (actual Jardim Botânico).
A casa e a praia da Granja, em Espinho, são revisitadas em A Menina do Mar, no início de um percurso que Maria Luísa Sarmento de Matos denominou Os Itinerários do Maravilhoso (Porto Editora, 1993). Toda a obra lírica e narrativa de Sophia é indissociável dessa dimensão literária e estética que emerge da consciência do maravilhoso, construindo um discurso mágico e profundamente simbólico. Não a magia banalizada dos actuais produtos literários sucedâneos, mas uma magia imanente à ordem da natureza e à ética do ser. A Fada Oriana, publicada no mesmo ano que A Menina do Mar (1958), reflecte a dicotomia do bem e do mal substituindo o maniqueísmo vigente pela demanda de um humanismo pleno, desta vez no espaço simbólico do bosque, subjacente aos contos de fadas – e à vivência de Sophia na Quinta do Campo Alegre, no Porto (actual Jardim Botânico).
Seguem-se A Noite de Natal (1959), O Cavaleiro da Dinamarca (1964), O Rapaz de Bronze (1966), A Floresta (1968) e A Árvore (1985). A este núcleo mais conhecido, deve acrescentar-se a peça de teatro O Bojador (1961) e duas antologias de poesia para a infância e juventude, uma das quais organizada em parceria com o poeta Alberto de Lacerda.
Em 1992, Sophia de Mello Breyner Andresen recebeu o Grande Prémio Calouste Gulbenkian pelo conjunto da sua obra infanto-juvenil. No colóquio internacional que decorre a 28 e 29 de Janeiro não há propostas assumidamente centradas nesta produção, mas pelo menos as comunicações de Fátima Freitas Morna («Momentos de silêncio no fundo do jardim: a efabulação como poética na obra de Sophia de Mello Breyner Andresen») e de Paula Morão («Nunca nada é inventado – Sophia e a casa do Campo Alegre») prometem contribuir para iluminar os lugares onde respira uma das vozes intemporais da nossa literatura para crianças.
(Texto publicado na secção “Leituras Miúdas”, LER nº 98. Fotografia de Eduardo Gageiro.)
Para se inscrever ou aceder à página de apresentação do colóquio internacional sobre Sophia de Mello Breyner Andresen, que decorre em Lisboa de 28 e 29 de Janeiro, clique aqui.
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