quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O MUNDO DE CALLUM


Uma das características dos livros para crianças e adolescentes radica, como afirma Peter Hunt em Crítica, Teoria e Literatura Infantil (Cosac Naify), na “sua falta de «pureza» genérica”; ou seja, na confluência de vários registos comunicativos que não exclusivamente o literário. Para muitos, esta é condição suficiente para a sua menorização. Recém-editado entre nós, Conspiração 365, da australiana Gabrielle Lord, é um bom exemplo dessa permeabilidade de géneros: é um livro, mas está estruturado como uma série de televisão – cruzamento de O Fugitivo com 24 Horas –, inclui diálogos de telemóvel com mensagens abreviadas e um final em aberto que espelha toda a retórica dos videojogos: «Game over. Do you want to try again?». Cada livro corresponde a um mês (já saíram Janeiro e Fevereiro) e acompanha os dias, as horas e os minutos de Callum Ormond, um rapaz de 15 anos para quem a vida está contagem decrescente – as páginas decalcam esse processo, começando na 181 e terminando na 01. Perseguido por uma mafia sem rosto, detentor de segredos crípticos que não entende, acusado de crimes que não cometeu, Callum vive escondido em permanente sobressalto, fugindo da família e ajudado apenas por um amigo da sua idade. É um romance juvenil do tempo em que vivemos, sem dúvida. Embora inflaccionado pelas regras do modelo televisivo, aí está o sentimento de medo e desprotecção total de quem tem hoje 15 anos.

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