domingo, 8 de maio de 2011

ENGLISH BY THE RECORD


A sigla AFHA quer dizer «Atrai», «Facilita», «Habilita» e «Agrada». Os autores do método, modestamente apresentado como não sendo «obra de um homem só», fizeram questão de explicitar que os ingleses «eram um povo de acção», e a sua língua idem: «Nenhum outro idioma expressa qualquer acção de uma forma mais concisa, prescindindo de considerandos, sem arabescos mentais ou preconceitos emocionais», advertiam. Pobres de nós. Ouvindo a voz de Mr. Fair (Sr. Justo) nos discos de 45 rotações, percebia-se logo que o professor virtual não era para brincadeiras. Vestido como o homem da Regisconta, chegava à porta e dizia: «Hallo. I’m Mr. Fair». Ao que o aluno virtual, um portuga calmeirão que nos livros se reduzia a uma silhueta negra sem nome, sendo tratado pela «criada» por «menino», respondia: «Ah! O senhor é o professor da AFHA?» E assim começava a aula. Mr. Fair punha e dispunha. Na lição nº 2, no papel de convidado, vemo-lo a queixar-se de que a sopa está tasteless, enquanto despeja o saleiro no prato. Depois, tortura uma criança com perguntas infindáveis («What is this? What is that? Where is the picture?»), para mais à frente mostrar os seus princípios educativos: «Como preferes os teus morangos, com vinho ou com sumo de laranja?». Por favor. A catraia tem para aí uns cinco anos! Isto é tanto mais ultrajante quando se sabe que Mr. Fair não toma vinho às refeições. Só bebe água ou leite, o sonso. Que fazer com um professor assim? Obviamente, demiti-lo. Prescindindo de «considerandos» e com todos os «preconceitos emocionais» a que temos direito.

(Texto publicado na edição de 8 de Maio da Notícias Magazine, revista de domingo do Diário de Notícias e Jornal de Notícias, na secção "Nostalgia".)

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