segunda-feira, 27 de junho de 2011

PARA UMA EDUCAÇÃO ELEMENTAR


Confesso que esperava um pouco mais de uma mente brilhante como Ken Robinson, mas talvez a expressão plena do seu elemento se encontre na comunicação oral e não na escrita (ouçam-no aqui, nas Ted Talks). O que é “o elemento”? Na definição do autor, “é o ponto onde a aptidão natural e a paixão pessoal se encontram”, proporcionando às pessoas a possibilidade de “fazerem aquilo de que gostam, o que as torna autênticas”. Facílimo, não? Basta ver a quantidade de gente que se levanta às sete da manhã, entusiasmada com a perspectiva de mais um dia de trabalho, para ver como a coisa não tem mesmo nada que se lhe diga…

Se me perguntarem se O Elemento (Porto Editora) é um livro de auto-ajuda, direi que não, porque embirro com o termo auto-ajuda; a não ser, eventualmente, para baptizar uma oficina de reparação de automóveis. Mas se me perguntarem se é um livro implicado no conhecimento do indivíduo e na sua harmonização com o colectivo e com as instituições sociais – a começar pela escola –, direi que sim, com muito gosto, e recomendo a leitura. Há uma enumeração algo exaustiva de casos “famosos”; pessoas que, cedo ou tarde, encontraram o seu elemento (de Matt Groening, criador dos Simpsons, a Richard Branson, o homem forte da Virgin), por contraponto a uma certa rarefacção teórico-científica, mas quem sentir que Ken Robinson está a fazer chover no molhado pode sempre fazer uma leitura diagonal dessas partes. No essencial, O Elemento é um livro estimulante, questionador e algo incómodo, sobretudo numa altura em que os cursos de Humanidades estão às moscas e nos tornámos num país (falido) de gestores e engenheiros. O caso escandaloso dos alunos do Centro de Estudos Judiciários, futuros magistrados que respondem a testes de cruzinhas e, mesmo assim, copiam vergonhosamente, é bem exemplo da mediocridade de espírito que grassa por aí.

“O pensamento criativo envolve muito mais do que os pensamentos lógicos e lineares que dominam a perspectiva ocidental da inteligência e, sobretudo, da educação”, afirma Ken Robinson. “O pensamento criativo depende, em grande parte, daquilo a que por vezes chamamos pensamento divergente ou lateral e, sobretudo, das metáforas e das analogias”. A citação faz pensar na literatura e nas artes? Pois, não a escolhi por acaso. Resta lembrar que conhecimento não é igual a inteligência, e inteligência não é igual a criatividade. Para sair deste atoleiro, vamos precisar principalmente desta última.

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