Os livros só com imagens tendem a gerar inseguranças entre pais e educadores, pela ausência de um guião escrito que os "obriga" a contar a história à sua maneira. O medo das ambiguidades, a necessidade de extrair uma moral e a dificuldade de fazer leituras partilhadas com as crianças levam a que sejam cautelosamente evitados, até porque não vale a pena gastar dinheiro com "livros de bonecos"… Quando isto acontece, ignoram-se as imensas potencialidades narrativas e interpretativas contidas nas imagens, de que O Ladrão de Galinhas é exemplo. Béatrice Rodriguez (n. 1961) não precisa de palavras para descrever a perseguição de três amigos – um coelho, um urso e um galo – à raposa que lhes rouba uma galinha à hora do pequeno-almoço. O formato rectangular, alongado, presta-se a um trabalho de composição que explora a distância física e emocional entre os personagens, subtilmente caracterizados pelas suas expressões e comportamentos, em cenários muito diversos. No volte-face final em que a galinha defende e escolhe ficar com o raptor, o leitor adulto poderá lembrar-se da famosa «síndrome de Estocolmo». É aí que se percebe como um livro aparentemente naïf tem o poder de nos questionar. Não há que ter medo.
O Ladrão de Galinhas
Ilustrações de Béatrice Rodriguez
Bags of Books
(Texto publicado na edição da LER nº 104, secção “Leituras Miúdas”. Seguindo o êxito de O Ladrão de Galinhas – e também as sugestões dos leitores – Béatrice Rodriguez publicou as sequelas Fox and Hen Together e Rooster’s Revenge, pela Enchanted Lion Books).
5 comentários:
Eu, por mim, adoro esses livros só de imagens, sobretudo em sala de aula.É giro ver como cada criança inventa uma história diferente...as várias maneiras de ler um livro, são fascinantes.
Beijos.
É caso para dizer: Grande(s) Livro(s).
Enquanto se menosprezar este tipo de publicação, as nossas criancinhas (tadinhas), não terão possibilidade de conceber uma narrativa sem palavras, as tão afamadas palavras. E cuidado, muito cuidado com a pontuação!
Parece-me que um dos grandes problemas é a ideia de que não têm nada para ler.
Pois é! O problema é que os "grandes" não têm nada para perguntar (aparentemente!).
E então como se chama a personagem? E para onde foi? E, (last but not least!), agora faz um desenho bonito sobre a história.
Isabel, que sorte têm os seus meninos.
Boas leituras (de imagens).
Este livro é mesmo muito bonito, a nível da ilustração em que a mim me dá a sensação de relevo e as expressões das personagens são muito boas. Interpreto que afinal a raposa foi roubar uma galinha porque queria um@ amig@! Sem comparar o livro onde está o bolo também permite viajar através das imagens...
Assim que peguei neste livro, apaixonei-me! O pormenor dos desenhos (que nos leva a descobrir uma data de elementos numa mesma página) é fascinante. A história de amor é de (r)ir às lágrimas!
Uma escolha inevitável para o encontro de Outubro, Angelina. ;-)
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