domingo, 24 de julho de 2011
A TABUADA PORTUGAL
Longe de ser tão popular como a tabuada Ratinho, a tabuada Portugal não traz data nem chancela do editor, mas apresenta inequívocos sinais de antiguidade. Não é só pela esfera armilar da capa e pelo menino de cabelo aparado à escovinha; nem pelos conteúdos (como hoje se diz) que nos falam da velha moeda portuguesa e das medidas de lenha… São já as noções básicas de aritmética que temos dificuldade em compreender. Por exemplo, frases como esta: «São quatro as operações de que nos servimos para resolvermos os problemas que se nos deparam: adição, subtracção, multiplicação e divisão.» Ora, se as coisas fossem assim tão simples, os nossos problemas estariam resolvidos. Mas a tabuada é um sistema de valores do tempo em que acreditávamos que 3x2 maçãs era igual a seis maçãs, e repetíamos aquela lengalenga com a convicção e a humildade dos crentes. Não comprávamos maçãs a crédito, nem pedíamos mais crédito para pagar os juros do crédito sobre as maçãs. Agora, 3x2 maçãs pode ser igual a seis mil maçãs ou a zero maçãs, dependendo do lado para que acorda a bolsa de Nova Iorque. A aritmética real foi substituída pela aritmética virtual, e nunca os números foram tão manipulados como hoje. Entretanto, esquecemo-nos da tabuada, essa coisa tão repetitiva e remediada. Deixámos de ser os «bons alunos» da Europa e perdemos as graças dos professores, que passaram a tratar-nos como delinquentes. Que fazer? Há que voltar atrás e reaprender a fazer contas. Vai uma maçã?
(Texto publicado na edição de 24 de Julho da Notícias Magazine, revista de domingo do DN e JN, na secção "Nostalgia".)
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