segunda-feira, 19 de setembro de 2011

ERA UMA VEZ... O HOMEM, 1


Há uma geração eternamente grata a um senhor de bigode e suíças grisalhas, de seu nome Albert Barillé. Foi o autor de uma das séries de animação mais inteligentes de sempre: Era uma vez… o Homem. Transmitida originalmente pela cadeia francesa FR3, passou na RTP entre 1978 e 79 (se a memória não nos falha, aos sábados de manhã), com a Tocata e Fuga em Ré Menor de J.S. Bach no genérico. Era a época em que os desenhos animados a preto e branco, esparsamente distribuídos pela grelha televisiva, se aguardavam com uma ansiedade quase natalícia. Depois de Vickie, o Viking, que anunciou um grito de libertação em relação aos bonecos fofinhos e semiestáticos; depois da descoberta de emoções mais dramáticas e complexas, graças à Heidi e ao Marco, a série Era uma vez… o Homem representou os primeiros passos na conquista da maturidade, mais ou menos como passar da escola primária para o ciclo preparatório dos desenhos animados. Foram 26 semanas a acompanhar a evolução da primeira célula e a extinção dos dinossauros, a transição do homem de Neanderthal para o Cro-Magnon, as civilizações dos vales férteis da Mesopotâmia, a expansão dos grandes impérios. Vinte e seis semanas para conhecer o século de Péricles, a rota de Marco Polo, o reinado de Isabel I, a corte de Luís XIV, a Rússia de Pedro o Grande e tantos outros mundos. Os argumentos e diálogos de Albert Barillé eram historicamente factuais, mas não escondiam preocupações pacifistas ou ecológicas, nem a sua desconfiança pelo pior da espécie humana. O último episódio intitulava-se, justamente, «Era uma vez… a Terra (e amanhã?)». Passados mais de trinta anos, continuamos sem saber responder.

(Texto publicado na edição de 18 de Setembro da Notícias Magazine, revista de domingo do DN e JN, na secção "Nostalgia".)

Sem comentários: