terça-feira, 29 de novembro de 2011
SE EU FOSSE UM LIVRO...
Se eu fosse um livro gostaria sempre que me lessem até ao fim, mesmo contra o (ou por causa do) malefício da dúvida. Não podendo ser um livro, recomendo o novo do André Letria e José Jorge Letria, que é bem bonito e não se quer largar tão depressa. Aqui, o booktrailer.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
LIVROS LILLIPUTIANOS
O título deste post não tem nada a ver (mas podia) com a rubrica de Sandy Gageiro sobre livros infantis, na Antena 2. É mesmo a última chamada para ir ver - hoje ou amanhã de manhã - a exposição de Livros Miniatura que está no CCB, alguns tão minúsculos que tiveram de ser cosidos com fios de cabelo. Está tudo aqui. No meio da colecção também há livros para os mais pequenos, e isso, noblesse oblige, é algo que não podíamos deixar passar em branco.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
JÁ NÃO FALTA MUITO
O próximo livro está quase pronto. O quarto, com ilustrações do Alexandre Esgaio. Dizem que o número 4 representa a ordem, o rigor, a estabilidade, a segurança. São bons ingredientes (mas não os únicos) para fazer o quinto livro. E outros mais.
sábado, 19 de novembro de 2011
CONTADORAS DE HISTÓRIAS
“OINC! A História do Príncipe-Porco é uma co-edição entre a Fundação Paula Rego e as edições Orfeu Negro, realizada a partir de desenhos de Paula Rego e com texto de Isabel Minhós Martins (Planeta Tangerina), tendo lançamento previsto nas livrarias de todo o país em 25 de Novembro.
A ideia do livro surgiu de um convite da Fundação Paula Rego às edições Orfeu Negro para um projecto de edição de um livro para crianças baseado na série de seis litografias que a Pintora Paula Rego criou em torno da história do Príncipe Porco, e que integram a Colecção da Fundação.
O texto, adaptado para leitores a partir dos 4 anos, parte do conto de tradição oral Re Crin (Rei Porco), recolhido pelo escritor italiano Giovan Straparola na obra Le Piacevoli Noti e publicado em Veneza no ano de 1500. Conta a história de um príncipe que nasceu na pele de um porco e que, apesar de sujo e malcriado, deseja a todo o custo casar com uma jovem bela e graciosa. Mas as três fadas que lhe lançaram o feitiço não vão facilitar-lhe a vida e a cada noiva, cada morte, até que ele encontre o verdadeiro amor…”
(Do press-release enviado pela Fundação Paula Rego. O lançamento de OINC! A História do Príncipe-Porco, que inclui uma leitura encenada e uma conversa em torno do livro, acontece na próxima quarta-feira, 23 de Novembro, às 10h30, na Casa das Histórias de Paula Rego, em Cascais.)
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
UMA MULHER DO NORTE
“A galeria portuguesa tem como objetivo dar espaço a profissionais portugueses. A pessoas inspiradas e inspiradoras. Uma galeria que expõe o melhor que se faz por cá nas suas diversas formas de arte.” Não sei quem é o autor – ou autores – deste novo blogue, mas agradeço desde já a referência e, especialmente, a forma como começa o texto: “A Carla é uma mulher do Norte mas vive em Lisboa.” É uma pequena frase que contém um destino, uma crença e a sua contradição. A ser de algum lado, de facto, serei do Norte, onde nasci e vivi até aos onze anos, no eixo Matosinhos-Braga-Monção. Do resto, que veio depois, recordo pouca coisa.
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
17º ENCONTROS LUSO-GALAICOS-FRANCESES
Faltam cerca de duas semanas para os 17º Encontros Luso-Galaico-Franceses do Livro Infantil e Juvenil, que este ano se realizam na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico do Porto, dias 2 e 3 de Dezembro. Tema escolhido: “O álbum na literatura para a infância” (ou, se preferirem, o picture book). Para o desvendar, haverá conferências, comunicações, debates, ateliers/encontros e venda de livros e de publicações científicas. A imagem acima é a capa de um dos álbuns de Oli e Ramón Trigo, participantes no encontro pela “facção galega”. Aqui fica o programa completo (sim, nós também vamos estar lá):
2 de Dezembro, sexta-feira
Auditório da ESE - manhã
9:00 - Recepção dos participantes
9:30 - Sessão de abertura – Presidente da ESE do Porto; representantes das entidades organizadoras
10:00 - Para uma poética do álbum – Ana Margarida Ramos (Univ. de Aveiro, LIJMI, ELOS, Portugal)
11:15 - As reescritas no álbum infantil galego – Carmen Ferreira Boo (Univ. de Santiago, Galiza)
11:45 - Os álbuns de Carla Maia de Almeida – Carla Maia de Almeida (escritora, Portugal) e Sara Reis da Silva (Univ. do Minho, LIJMI, ELOS, Portugal)
Auditório da ESE - tarde
14:30 - A investigação em Literatura para a Infância e a Juventude – Blanca-Ana Roig Rechou (Univ. de Santiago, LIJMI, ELOS, Galiza), Sara Reis da Silva (Universidade do Minho, LIJMI, ELOS, Portugal)
15:30 - Apresentação da obra O Álbum na Literatura Infantil e Xuvenil (2000-2010) - Mar Fernández (Univ. de Santiago, LIJMI, ELOS, Galiza)
16:15 Encontro com António Mota (escritor) e José Manuel Saraiva (ilustrador) – Maria Elisa Sousa (ESE do Porto, NELA)
Sala X
16:15 - Os álbuns de Eric Many – Eric Many (ESE do Porto, França)
Sala Y
Os álbuns de Oli e Ramón Trigo – Carme Ferreira (Liter21, Univ. de Santiago), Geovana Gentili (Univ. de Santiago, LIJMI, ELOS, Brasil)
Sala Z
16:15 - Os álbuns de Manuela Bacelar – Carina Rodrigues (bolseira da FCT; LIJMI, ELOS, Portugal)
Auditório da ESE
18:00 - Canções tradicionais de Portugal, da França e da Galiza
Alunos da licenciatura em Educação Musical; direção: Rui Ferreira (ESE do Porto, Portugal)
3 de Dezembro, sábado
Auditório da ESE
9:30 - A crítica e a investigação em Literatura Infantil e Juvenil – Vanessa Regina Ferreira da Silva (Univ. de Santiago, LIJMI, ELOS, Brasil)
A revista Malasartes: Cadernos de Literatura para a Infância e a Juventude – José António Gomes (ESE do Porto, NELA, LIJMI, ELOS, Portugal)
A revista AILIJ – Isabel Mociño González (Univ. de Vigo, LIJMI, ELOS, Galiza)
10:15 - A construção de álbuns ilustrados. Oli, Ramón Trigo (escritores e ilustradores-Galiza) e Marta Neira Rodríguez (Escuela Universitaria de Magisterio CEU-Univ. Vigo, LIJMI, ELOS, Galiza)
11:30 - A obra de Manuela Bacelar – Manuela Bacelar (ilustradora, Portugal) e Sara Reis da Silva (Universidade do Minho, LIJMI, ELOS, Portugal)
12:30 - Encerramento – Representantes das entidades organizadoras e Coordenador do NELA
Informações e inscrições: nela@ese.ipp.pt
UM LIVRO GIGANTE
É um livro grande, em todos os sentidos. A Bags of Books, que iniciou o seu projecto editorial com Beatrice Alemagna (O Meu Amor e Depois do Natal), editou agora A Gigantesca Pequena Coisa, a última obra da autora nascida na cidade italiana onde se mostra o melhor da ilustração do livro infanto-juvenil: Bolonha. É muito difícil arrumá-lo em qualquer prateleira, mas essa é uma questão absolutamente menor comparada com o que realmente importa.
domingo, 13 de novembro de 2011
A ÚLTIMA CRÓNICA
Não, nunca nos habituamos à nostalgia do fim do Verão, por muito que tentemos. Por muito que nos digam: «para o ano há mais», «é tempo de recomeços», «a chuva faz falta» e «são bonitas as folhas no Outono». Pois, diz que sim. Mas quando arrumamos de vez as toalhas de praia, limpando os vestígios de sal, de sol, do cheiro a areia e a bronzeador, todas essas verdades bem-intencionadas perdem para a nossa atávica memória sensorial. Porque o Verão é sobretudo isso: imagens, sons, cheiros, sabores, texturas. É um cão a correr junto às ondas, é uma cara sardenta cheia de creme Nívea, é um beijo com sabor a gelado, é o perfume das estevas e dos pinheiros numa estrada secundária. Todos os anos, temos a possibilidade de retomar esse imaginário enraizado no passado e saboreá-lo novamente. E se o imaginário significa a possibilidade de brincar com as imagens que acumulámos desde crianças, então não existe época do ano mais livre nem mais completa. Nada se lhe compara, em amplitude e agudeza dos sentidos. Quando acaba, sentimo-nos inevitavelmente mais velhos, mais responsáveis. De certo modo, cada verão que termina é um ano perdido da nossa infância. Por isso a nostalgia do fim do Verão é sempre igual, estando nós diferentes. Repete-se ciclicamente, adiantando-se ou atrasando-se em relação ao calendário, mas chega o dia em que nos apanha, tal como a data do nosso aniversário. Não, nunca nos habituamos à ideia de que também o Verão envelhece. Como todos nós.
(Texto publicado na edição de 6 de Novembro da Notícias Magazine, revista de domingo do DN e JN, na secção "Nostalgia". A extinção desta página, decorrente da reformulação editorial da revista, significa também o fim de uma colaboração regular que iniciei em 1994.)
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
A LEITURA NA IDADE DO ARMÁRIO
«Em suma, o adolescente não fecha a porta para sempre. Precisa de espaço e autonomia, pelo que não o podemos sufocar com a nossa prestável ajuda, como fazemos com as crianças. Temos também de perceber que está a construir o seu mundo a partir de estímulos diversos e simultâneos. Um livro adorado hoje será odiado amanhã, ou talvez não. E muito provavelmente um livro impenetrável hoje será legível amanhã. Para lermos com sucesso, temos de relacionar em permanência o que lemos com o nosso conhecimento prévio. Muitas vezes não damos por isso, mas sempre que lemos estabelecemos ligações. Por isso empatizamos com personagens, situações, descrições, ousentimos tristeza, nostalgia, medo, alegria, solidariedade, revolta. Se o livro estiver noutro hemisfério, para nós totalmente desconhecido, não o conseguimos ler. Pensando nos adolescentes e na instabilidade do seu desenvolvimento, a probabilidade de isto acontecer é muito maior. E é natural que assim seja.
A Promoção faz-se tentando e errando sempre. Muitos frutos não se vêem no imediato, não podemos cair na tentação de verificar se fizemos tudo bem, se o fizermos estamos a controlar a liberdade do outro e deitamos todo o trabalho por terra. Não há fórmulas milagrosas, há caminhos. Alguns não leitores nunca se tornam leitores, e têm esse direito. Muitos tornar-se-ão leitores selectivos, quando chegarem à idade adulta. É um mistério e uma maratona, necessariamente altruísta.»
(Só por falta de tempo é que ainda não tínhamos lido e linkado este excelente texto da Andreia Brites, entusiasta promotora da leitura e blogger do Bicho dos Livros. Ler tudo, mas tudo mesmo, aqui.)
ESTREIA
EDUCAÇÃO, CULTURA E IMAGINÁRIO
Sexta-feira, 11 de Novembro, no Instituto de Educação da Universidade do Minho (Braga), o Colóquio Internacional Educação, Cultura e Imaginário propõe uma série de comunicações e mesas-redondas à volta dos temas “educação como viagem iniciática” e “educação sob o signo da luz e das sombras”. O colóquio tem como público-alvo estudantes, professores, educadores, investigadores, psicólogos e público em geral. Gostaríamos muito de estar presentes e esperamos que as greves dos transportes não atrapalhem o evento. O programa pode ser consultado aqui. Ilustração roubada a Daniel Silvestre da Silva.
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
QUASE A COMEÇAR
A terceira edição do (mini) Curso de Livro Infantil com a Booktailors. Últimas inscrições e mais informações aqui.
domingo, 6 de novembro de 2011
TODOS OS CONTOS DELA
«As únicas histórias para crianças que eu escrevi são estas», afirma, levemente zangada, apontando o livro que nos acompanha na conversa, uma colectânea ilustrada e publicada em 2001 pela Editorial Lumen. «Los Niños Tontos não é uma história para crianças só porque tem a palavra «niño». As pessoas misturam tudo. E os editores também, a ver se cola. Mas uma coisa são livros sobre crianças e outra, completamente diferente, são livros para crianças. Não é uma literatura menor, de modo algum.»
(Também eu tive o privilégio de conhecer Ana María Matute, Premio Cervantes 2010, que passou meteoricamente por Lisboa há poucas semanas. É um ser raro, daqueles que nos impressionam só pela presença. Pedi-lhe para autografar este livro comprado na Fnac, há dez anos – uma edição já difícil de encontrar, segundo ela –, que guarda os seus únicos contos para crianças, a despeito do que possa dizer a wikipedia. O excerto acima pertence ao artigo publicado na última LER, que por lapso não surge assinado.)
sábado, 5 de novembro de 2011
OUTRAS COISAS SELVAGENS
Com obra dispersa por várias editoras, Sara Monteiro tem feito um percurso discreto pela literatura infantil, paredes meias com a poesia, o que nem por isso obscurece a sua originalidade e talento literário – duas qualidades nem sempre consideradas quando se trata de escrever para crianças. A Linha do Horizonte, uma narrativa relativamente extensa a que as ilustrações de Danuta Wojciechowska acrescentam significado (substituindo-se, no final, ao próprio corpo do texto), retoma o imaginário do primeiro livro da escritora, As Meninas de La Mancha (Asa, 1991). Crianças que entram subtilmente em mundos paralelos, abandonando os lugares seguros da casa e da família; aventuras em que o entusiasmo da descoberta convive com medos primitivos; jogos de espelho entre o narrador e os personagens; e uma noção poética do tempo e do espaço que reverte para a pura subjectividade da autora. Ao ler a história de Verão destas três crianças que navegam num dragão de borracha até aportar numa ilha desconhecida, habitada por um urso de humores flutuantes, é difícil não nos recordarmos de Maurice Sendak e O Sítio das Coisas Selvagens. Os monstros também moram aqui. E recomendam-se.
A Linha do Horizonte
Sara Monteiro
Ilustrações de Danuta Wojciechowska
Caminho
(Texto publicado na edição da LER nº 107, secção “Leituras Miúdas”)
terça-feira, 1 de novembro de 2011
A VIDA ANTES DA NIGELLA LAWSON
Naquela altura estávamos longe de adivinhar que especialidades como cannelloni, strogonoff ou chop suey entrariam nos hábitos alimentares portugueses. Em 1977, quando o Círculo de Leitores publicou o best-seller de Roland Gööck, tudo nos parecia exótico, irresistível, voluptuoso. Comparando com o Livro de Pantagruel, que marcava presença sóbria e reverencial nas cozinhas portuguesas, As 100 Mais Famosas Receitas do Mundo eram como um concurso da Radiotelevisão Italiana irrompendo a meio de uma eucaristia dominical a preto e branco. Não se conseguia tirar os olhos daquilo, sobretudo se o almoço tinha sido faneca frita com batata. Revestidos por um manto espesso de vernizes e conservantes, os pratos refulgiam nas páginas. A carne tenra do chateaubriand ainda palpitava. O zabaione era digno de receber o último banho de Cleópatra. A charlotte russe parecia um castelo de contos de fadas defendido por palitos à la reine. No meio deste cortejo de volúpias, que o autor dividia entre «alta cozinha» e «especialidades de rústico encantador», Portugal incluía-se, como é óbvio, no segundo grupo. A hierarquia de poderes era visível na supremacia da cozinha francesa (16 pratos), enquanto todo o continente africano se resumia a uma travessa de cuscus. «Especialidades de rústico encantador» eram também as nossas fatias de Tomar, confeccionadas com umas proibitivas 24 gemas, e a carne de porco à alentejana, servida em prato lascado e mesa humilde. Tratava-se de duas escolhas felizes, mas reveladoras das tendências ciclotímicas da nação: ora afundada em açúcar ora a apertar o cinto. É preciso ter estômago.
(Texto publicado na edição de 30 de Outubro da Notícias Magazine, revista de domingo do DN e JN, na secção "Nostalgia".)
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