sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

PERSÉFONE REINVENTADA


Talvez o leitor nunca venha a saber ao certo quem é Mina McKee. Dizer que se trata de uma menina de nove anos que lê William Blake («Era pintor e poeta e algumas pessoas diziam que era louco – tal e qual dizem de mim») já é desvendar algo sobre a «McKee Paradoxal», a «McKee Disparatada», a «McKee Esquisita». A McKee que responde aos testes inventando palavras à maneira de Joyce, sendo «retirada» da escola. Mas dizer isso é explicar quase nada. Goste-se ou não, entrar no diário de Mina McKee significa dar um passo no escuro, à procura das palavras que ressoam sob a superfície. Ao contrário de O Segredo do Senhor Ninguém, cuja narrativa se encadeava sem sobressaltos formais, O Meu Nome é Mina, passado num tempo imediatamente anterior, situa-nos numa escrita guiada pela corrente de consciência («stream of counsciousness»), em que o experimentalismo da linguagem atinge a própria composição gráfica e tipográfica. A história de Mina McKee, uma revisitação contemporânea do mito de Perséfone e Deméter – a princesa dos infernos e a sua mãe protectora e nutritiva –, é um dos romances juvenis mais extraordinários traduzidos em 2011.

O Meu Nome é Mina
David Almond
Tradução de Manuela Vaz
Presença

(Texto publicado na edição nº 109 da LER.)

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