domingo, 21 de outubro de 2012

MANUEL ANTÓNIO PINA (1943-2012)



Sei que chovia na tarde de 28 de Novembro de 2003, porque tenho a data estampada na folha de rosto autografada de Os Livros. Combinámos a entrevista no Pinheiro Manso, perto de casa dele. Apareceu vestido dos pés à cabeça com um impermeável verde-garrafa, calças e casaco, a rir-se daqueles paramentos: «Não devia ter saído assim. A minha mulher diz que pareço um homem do lixo.» Falámos dos seus heróis da infância e adolescência, o tema da minha primeira reportagem para a LER, ainda sob a direcção de Mafalda Lopes da Costa. Falámos de Pancho Villa, Huckleberry Finn, Heitor, Mandrake, Will Eisner, Li’l Abner (aqueles decotes, Deus meu!), Robert Crumb, Hergé, Sandokan. Depois contou-me o episódio do cão enxotado a pontapé pelo guarda de um centro comercial, um desses rafeiros cheios de pulgas e sarna, a apontar os ossos à fome por baixo do pelo ralo. Contou-me como naquele momento desejou vestir a capa de Mandrake e transformar o pobre bicho num leão de dentes afiados. Mandrake faz um gesto e…

Não morreste. Ninguém que valha alguma coisa suporta a tua morte. Mandrake, faz um gesto. Faz a porra de um gesto. Afinal, para que servem os ilusionistas?

4 comentários:

Leonor Lourenço disse...

Gostei muito de ler este texto. Nós que o apreciamos, o lemos, transmitimos a sua obra com amor, seremos os mandrakes nesta história. Já o somos, não é?.
Um abraço
Leonor

ana disse...

e de certeza que falaram do ursinho com muito pouco miolo...

Carla Maia de Almeida disse...

É tudo verdade. Abraços.

Anónimo disse...

Ainda que veio aqui falar de MAP... faltava-me ouvi-la. E foi bom. Alguém que fala de MAP e não tem que necessariamente colocar um texto a recordá-lo. Porque o que faz falta é o Homem, esse homem que eu tenho como o Brincador, do Álvaro. Obrigada Carla. Gostei de saber de si e do Homem Manuel António Pina.
Rita Alves