Em vésperas da chegada da revista LER de Novembro, aqui fica a segunda personagem «psicanalizada» na secção «Wendy no divã»:
LOBO
MAU Perseguido, escarnecido, quase sempre derrotado
pela astúcia, o Lobo Mau continua a ser o vilão de serviço das histórias. Há
quem o queira converter ao vegetarianismo. Má ideia.
Ao contrário do Barba Azul, um serial killer sanguinário e sem perdão
possível, o Lobo Mau não é um psicopata puro, apesar da reputação de gangster da floresta, esquivo e
intratável, sempre pronto a ferrar o dente em carne alheia. Porquinhos,
cabritinhos, meninas impúberes ou velhinhas duras de roer, tanto faz. A fome do
lobo é mítica, ancestral, ligada ao instinto primordial da sobrevivência. Para
aplacá-la, até o lobo mais viril será capaz de travestir-se de avozinha ou de mergulhar
a patorra em farinha, revelando uma propensão esquizóide para o disfarce, à
maneira do atormentado Norman Bates de Psycho.
Desfavorecido pela sorte, falta-lhe a sofisticação e a inteligência de um psicopata
como Hannibal Lecter, outro parente próximo de Barba Azul. Desgraçadamente, é
também a pouca sorte que o humaniza aos nossos olhos – e nenhum outro animal se
prestou a encarnar os medos próprios do homem como o fez o lobo, esse solitário
caçador.