CAPITÃO GANCHO O personagem mais só e melancólico da história de Peter Pan é também um vilão sinistro, à altura dos princípios da pirataria. Quem lhe der a mão acaba ferido.
Prisioneiros do risco e da tragédia, os
piratas cultivam uma exuberância festiva, que no caso de James Gancho se
associa ao porte de grand seigneur.
Filho indesejado, cativo de um passado misterioso, «revelar quem ele era de
facto poria ainda hoje o país a ferro e fogo», insinua J.M. Barrie. Essa
identidade reprimida mostra-se nos «olhos cor de miosótis e de uma profunda
melancolia», um dos seus estados de alma constantes. O próprio autor diz que «o
homem não era totalmente mau», embora procedesse como um canalha a maior parte
das vezes. Prepotente com a tripulação do Jolly
Roger, sádico com as vítimas, capaz de mentir e enganar sem escrúpulos,
Gancho é um caso evidente de personalidade anti-social. A educação no colégio
interno de Eton não lhe terá feito muito bem. Afinal, talvez seja ele o mais perdido
dos lost boys, fugindo do tic-tac do crocodilo até à hora fatal. Mas não choremos, já que morreu como um pirata: a rir-se dos seus
tormentos.
(Texto publicado na revista LER nº 132, rubrica «Wendy no Divã»).
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