quarta-feira, 23 de abril de 2014

A NATUREZA DOS FENÓMENOS


O velho ulmeiro que vejo da janela do escritório começou a libertar as primeiras folhas. Enquanto outras árvores já vão adiantadas na Primavera, o ulmeiro respeita a sua velhice e executa lentamente o trabalho cíclico do florescimento. Só dará uma sombra completa no Verão, mas esta prolongar-se-á quando outras árvores já estiverem despidas. É esse o seu tempo, a sua identidade, a sua consciência de árvore. Simplificando muito, é isto a fenomenologia: a imagem deste ulmeiro na minha cabeça como uma representação da seta do tempo. Quando Husserl laborava nos seus estudos sobre a fenomenologia, na Primavera de 1910, tinha diante de si as árvores em flor no jardim da casa de Gottingen. «C'est la chose, l'object de la nature que je perçois; là-bas, dans le jardin.» (in «Edmund Husserl: Les arbres en fleurs et la phénoménologie», Sciences Humaines nº 103, Março de 2000.)

Publicado agora pela Kalandraka, O Inventário das Árvores, de Virginie Aladjidi (texto) e Emmanuelle Tchoukriel (ilustrações), reúne 57 árvores e arbustos da Europa e do mundo. Não fala do ulmeiro, mas é um belo livro para lermos lá fora e acercarmo-nos da natureza dos fenómenos.

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