- Saldanha?! Então, mas eu acabei de entrar no Saldanha!...
- Não se preocupe, é a voz que não está a bater certo com as estações, também já tinha reparado...
- Ah, pronto! Uma pessoa já lhe falha a memória, e eles ainda tornam isto pior. Olhe, minha senhora, não sei para que lemos tantos livros... Eu li tanta coisa e não me serve para nada.
- Oh... Então porque é que diz isso? Os livros...
- Porque, se calhar, o único objectivo disto tudo é segurar a bola...
- A bola?... Ah, quer dizer, a Terra.
- Pois, a Terra, o globo...
- Então, mas os livros fazem a civilização...
- Se calhar! Mas foram eles que nos puseram cá, para segurarmos a bola.
- Eles, quem?
- Os extraterrestres, os alienígenas...
- Ah... talvez...
- Isto é tudo muito cansativo. Uma pessoa nasce e morre, e depois acabou-se. Uns atrás dos outros. Para que servem os livros?
- Servem para as pessoas que ficam depois de nós...
- Essas depois também morrem. Se começamos a pensar nisso, ficamos doentes. Isto não faz sentido nenhum. Somos todos robots nas mãos deles, estamos aqui só para segurar a bola!
- Não diga isso.... Então e a arte? Para que serve a arte?
- Olhe, serve para provar que eles já cá estiveram. Deixaram desenhos nas grutas para provar que já cá estiveram. E um dia talvez voltem para salvar a bola, porque nós não conseguimos tomar conta dela.
- ..... (silêncio)
- Há cada vez mais máquinas e robots para nos substituir. Qualquer dia inventam robots para limpar a casa, já pensou?
- Eu acho que já inventaram robots para limpar a casa...
- Ai sim? Olhe, então talvez eu seja um robot e esteja a aqui a ser controlado por alguém. Quem me diz a mim que eu não sou um robot? Adeus, minha senhora, muito gosto em falar consigo. Feliz Natal!
- Para o senhor também, Feliz Natal!
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