WENDY
DARLING Demasiado responsável, adulta antes do
tempo, excessivamente permissiva e abnegada, convencional até na aparência, a
filha mais velha dos Darling não parece ter grande história. Mas, sem ela, não
saberíamos quem é Peter Pan.
Chegou a vez de Wendy se deitar no divã
que tomou a liberdade de adoptar o seu nome. O caso de Wendy Moira Angela
Darling, quando comparado com os de outros personagens, desde o psicótico
Barba-Azul até à insuportavelmente narcisista Rainha Má da Branca de Neve, não parece representar grande perigo para a
sociedade. Afinal, a ideia de prolongar a adolescência é apelativa para muitas
personalidades; e há sempre uma (ou um) Wendy de serviço para fazer o papel de
mãezinha. A vantagem da codependência é que ninguém fica a ganhar, certo? A
nossa Wendy Darling é uma querida, e J. M. Barrie descreve-a com bastante
profundidade. Há quem defenda o seu protagonismo na história, mas o glamour vai
todo para Peter Pan. É ele quem a convida para contar histórias na Terra do
Nunca, tarefa que Wendy assume com gosto, ao mesmo tempo que se mantém «muito ocupada
a costurar» e a tratar de «cozinhados [que] a obrigavam a não tirar o nariz da
panela». Cumprindo os seus deveres, torna-se imprescindível, e pelo meio
apaixona-se por Peter, que «detestava todas as mães, excepto Wendy». O idílio
não vai durar sempre. Movida pelos remorsos, Wendy regressa a casa, levando os irmãos
e os Meninos Perdidos consigo. Casará, terá filhos e esquecerá como se voa. Quando
volta a ver Peter Pan, já tem mais de vinte anos: sente-se «desprotegida e
culpada, como uma adulta». Wendy, querida, qual seria o teu destino se tivesses
enveredado pela pirataria?
(Último texto da série «Wendy no Divã»,
publicado na edição 143 da LER. No próximo número, a sair brevemente, começa a série «Grandes
Viajantes», dedicada às personagens mais aventureiras da literatura para os
mais novos – e não só.)
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