segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

MARY JOHN: SALTO DE GIGANTE



Mary John, nome evocativo da rebeldia pirata, conduz-nos ao conhecimento de uma personagem de carne e osso, Maria João, também ela confrontada com os mares turbulentos e conflituosos da adolescência. Por aqui tem navegado o universo criativo de Ana Pessoa, sabemo-lo pelos seus livros anteriores: O Caderno Vermelho da Rapariga Karateca (2012) e Supergigante (2014), editados na mesma coleção da Planeta Tangerina, Dois Passos e um Salto. Para quem tem seguido o percurso da escritora, é óbvio que Mary John representa um salto de gigante, um golpe certeiro feito de risco e ousadia, quer no domínio da linguagem estilística quer na incursão por temas tidos como tabu. Raro, muito raro um romance juvenil que se aventura pelos temas da sedução amorosa, da descoberta do corpo e da sexualidade sem nunca resvalar para o lugar comum nem para a moralidadezinha. O registo epistolar (Mary John escreve ao rapaz que quer esquecer) serve de suporte à estrutura narrativa, ao mesmo tempo que rasga folhas em branco onde se inscreve uma outra vida da protagonista; uma vida feita de mudanças, de equilíbrios precários, de passos de bailarina torpe num arame esticado, correndo em direção a algo de novo. Seguríssima, a voz da narradora agarra o leitor pelas vísceras e pelo coração, cortando rente quaisquer artifícios. Não surpreende que a última palavra seja um monossílabo: «Zás.»

Mary John
Ana Pessoa
Bernardo P. Carvalho (ilust.)
Planeta Tangerina

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