Mary
John, nome evocativo da rebeldia pirata, conduz-nos ao
conhecimento de uma personagem de carne e osso, Maria João, também ela
confrontada com os mares turbulentos e conflituosos da adolescência. Por aqui
tem navegado o universo criativo de Ana Pessoa, sabemo-lo pelos seus livros
anteriores: O Caderno Vermelho da
Rapariga Karateca (2012) e Supergigante
(2014), editados na mesma coleção da Planeta Tangerina, Dois Passos e um Salto.
Para quem tem seguido o percurso da escritora, é óbvio que Mary John representa um salto de gigante, um golpe certeiro feito
de risco e ousadia, quer no domínio da linguagem estilística quer na incursão
por temas tidos como tabu. Raro, muito raro um romance juvenil que se aventura
pelos temas da sedução amorosa, da descoberta do corpo e da sexualidade sem
nunca resvalar para o lugar comum nem para a moralidadezinha. O registo epistolar (Mary John escreve ao rapaz
que quer esquecer) serve de suporte à estrutura narrativa, ao mesmo tempo que
rasga folhas em branco onde se inscreve uma outra vida da protagonista; uma
vida feita de mudanças, de equilíbrios precários, de passos de bailarina torpe num
arame esticado, correndo em direção a algo de novo. Seguríssima, a voz da
narradora agarra o leitor pelas vísceras e pelo coração, cortando rente quaisquer
artifícios. Não surpreende que a última palavra seja um monossílabo: «Zás.»
Mary
John
Ana Pessoa
Bernardo P. Carvalho (ilust.)
Planeta Tangerina
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