No escuro, os olhos de Kenny ficaram maiores.
– Como é que cheguei tão longe? – perguntou.
– Pediste um desejo, e um desejo é meio caminho
andado para chegares onde quiseres.– Como é que cheguei tão longe? – perguntou.
Kenny encostou a cabeça à janela e imaginou um cavalo preto e brilhante, e um navio pintado de branco.
– É quase de manhã – disse o galo. – Tenho de me ir embora.
Abriu as asas e voou em direção ao céu.
– Adeus, Kenny.
Nas luzes cantantes da cidade, Kenny viu-o desaparecer.
– Adeus – murmurou.
Kenny ouviu os ruídos da cidade atravessarem o vidro da janela. Eram como as canções que eleinventava quando estava contente. Fechou os olhos e os ruídos tornaram-se numa canção sobre um cavalo que fumegava pelas narinas e soltava chispas prateadas com os cascos.
Kenny adormeceu com a cabeça encostada ao parapeito da janela. E a canção tornou-se num sonho sobre um cavalo. Kenny ia montado num cavalo negro e brilhante. Partiram os dois a galope, deixando as casas para trás, e as pessoas viam-nos das janelas e batiam palmas. Correram o mundo inteiro, até chegarem à beira do oceano. E lá estava um navio pintado de branco, com um quarto a mais para um amigo.
(excerto do final de A Janela de Kenny, um texto filosófico e encantatório de Maurice Sendak - aqui, também autor das ilustrações - que tive o privilégio de traduzir. Acabadinho de sair pela Kalandraka.)