quarta-feira, 5 de julho de 2017

ROBIN HYDE, JOAN OF ARC


Não conheço nenhuma tradução para português desta mulher invulgar que escolheu o nome literário de Robin Hyde, evasivo e misterioso como os seus poemas. Nasceu em Cape Town, na África do Sul, em 1906, mas viajou com os pais para a Nova Zelândia quando tinha apenas um mês. Viveu sempre no limiar da sobrevivência, como jornalista e escritora, numa época e num país onde não era fácil ser mulher (mas alguma foi?). Interessou-se pelos direitos dos maoris, cujo estatuto de povo colonizado comparava ao do género feminino. Teve um filho que entregou para adopção, por não ter condições mínimas de o manter. Não gozava de boa saúde e acabou por se submeter a tratamento psiquiátrico, no Auckland Mental Hospital. Ironicamente, foi essa oportunidade de ter um quarto que fosse seu (para usar a expressão da sua contemporânea, Virginia Woolf), que lhe permitiu escrever, em quatro anos, sob o encorajamento dos médicos, três romances e dois livros de poesia, além de crónicas e reportagens. Escreveu muito sobre os proscritos da sociedade, numa busca de respostas que reflectia as suas próprias perdas, o seu desamparo e a sua quase indigência material. Os amigos foram o maior apoio, mas não conseguiram evitar o suicídio de Robin Hyde, aos 33 anos, a 23 de Agosto de 1939. A Segunda Guerra Mundial estava prestes a eclodir e ela estava em Londres. Um representante do governo da Nova Zelândia tinha ido buscá-la ao quarto onde morava, nesse mesmo dia, com o intuito de a repatriar. Falhou por umas horas.


Joan of Arc

It is for me to dare, whilst others dream.
Pity, my God, on all bewildered fools
Who must affront grave order, steadfast rules
Mellowed by centuries! How vain and crude
Will seem my tossing torches, in this town
Whose carven saints with quiet eyes gaze down
Into the sliding river. Wise friends above,
Had you but taught God's nobler name is Love.

What if the pity in my heart has wrung
Silence to speech, the semblance of a tongue
Given to meadowsweet, to brook and tree?
What matter? Many faces lift to me
Their ancient loss and evil. Have I choice,
Save to stand firm, and cry, "Thus speak the Voice"?
Some love me, some will mock... for I am young...
I think that they will doom me at the last.
All but the scent of grasses will glide past,
All but the quiver in my tree will cease...
God send, I flung the starved some shred of peace.

(in The Conquerors and Other Poems, originalmente publicado em Londres pela Macmillan, 1935.)

2 comentários:

Portuguesinha disse...

Robyn Hide...
Até agora não tinha ouvido falar. Parece-me digna de uma espreitadela.

Quanto ao nome literário a minha interpretação é: Robyn tanto dá para homem quanto para mulher. Hide é esconder... Logo, ela, para ser lida, tinha de ocultar a sua identidade feminina mascarando-a num nome androgeno.

Não, ainda não é fácil ser mulher

Manuel Luis disse...

Passo para a cumprimentar e dizer-lhe que gosto do que escreve, estou a tentar ler até ao fim.
Abraço