segunda-feira, 17 de novembro de 2008

RAÇAS HUMANAS, 1: LOLITA SEVILHANA


“Raças Humanas”, uma colecção de cromos da Agência Portuguesa de Revistas – dos anos 1950, creio – foi um dos highlights da minha infância, chegando por via familiar. Passei horas a olhar para aquelas figuras, estranhando certos pormenores da roupa ou dos adereços, imaginando histórias e casamentos entre eles, e cada detalhe ficou gravado para sempre na minha memória: as orelhas esticadas por brincos da “Mulher Dayak”, as longas tranças da “Rapariga da Guatemala”, o chapéu alto da “Aldeã da Selva Negra”, o sorriso do “Guerreiro Mau-Mau”, o penteado em caracol da “Rapariga de Nepal”, a mão na anca da “Alsaciana em Traje de Festa”, a pose seráfica do “Dignitário Mongol”, o cocar do “Tipo Siux”, os discos redondos nos lábios da “Mulher de Jara-Djingé” (que eu não compreendia como podia ser “uma beleza”). Uma das minhas preferidas era a “Jovem Sevilhana”, que tinha flores no cabelo e um vestido espampanante. Achava-a lindíssima. E depois, o texto:

“A Andaluzia conserva, latentes e vivos, os vestígios da dominação árabe, que instituiu nesta região o seu califado. Com a “Giralda” e a “Torre do Ouro” como fundo, esta bela sevilhana sintetiza na sua imagem, a graça do seu povo, feliz e folgazão.”

Qual é a miúda que, aos seis ou sete anos, não gostaria de ser também assim?

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