terça-feira, 18 de novembro de 2008

RAÇAS HUMANAS, 2: NEFERTITI NEGRA


A antiga colónia belga da África Equatorial, ex-Zaire e actual República (pouco) Democrática do Congo está neste momento em estado de sítio, com o leste do país sufocado por milhares de deslocados sem comida, água e medicamentos. O filme é o do costume: tropas rebeldes em confronto armado com o exército do governo, no que parece ser o culminar de anos de deriva marcada pelo oportunismo político, violência e corrupção. Um cenário comum a outros países de África, muito diferente do que a colecção “Raças Humanas” permitia perceber. Aqui, o planeta dividia-se entre bárbaros e civilizados, tout court. Os primeiros eram, frequentemente, “cobardes e preguiçosos”, “muito fanáticos”, “sanguinários” e cheios de “instintos maus”, visto que ainda não tinham assimilado “os princípios da civilização”. Os karakrits, no Darfur, podiam mesmo lamentar-se de ter “as mulheres mais feias do continente africano”. Já os segundos eram “muito patriotas” e “apegados a velhos e ancestrais costumes”, exibindo “indivíduos garbosos e prestantes” e mulheres “geralmente muito belas”, por vezes dotadas de “grande sentido artístico” e mesmo de uma “alma imperecível”. E assim corria o mundo, engrenado na sua ordem infalível, como a legenda do cromo acima descreve:

“Preta do Congo Belga

As mulheres que, como esta, adornam o penteado com tiras de couro e flores, são as esposas dos chefes. Estes negros vivem na selva tropical, em pleno Equador, onde a humidade e o calor insuportável tornam a vida difícil ao branco que tente residir ali.”

Sem comentários: