terça-feira, 27 de janeiro de 2009

QUANDO (REALMENTE) SE FALA DE LIVROS

Adenda a um post anterior: o melhor do congresso “Formar Leitores Para Ler o Mundo”, organizado no final da semana passada pela Gulbenkian/Casa da Leitura, foi trazer a Lisboa uma pequena elite do pensamento contemporâneo sobre a literatura para crianças. No painel da manhã do primeiro dia e no fórum que se seguiu mais tarde, Peter Hunt, Lawrence Sipe, Maria Nikolajeva e Sandra Lee Beckett representaram uma lufada de ar fresco no modo habitual de comunicar. Constato, com alguma perplexidade, que neste tipo de encontros se fala muito de “como ler livros” e pouco de “que livros ler”, como se as chamadas boas práticas dispensassem o conhecimento prévio da literatura. É assim que os discursos se tornam circulares e, muitas vezes, demasiado pessoalizados para quem não se interessa tanto pelo que se passa nas aulas e nas bibliotecas, mas pelo que sustenta todo esse universo: os livros, a escrita e os autores (e quando falo de autores incluo aqui escritores e ilustradores).

Outra coisa: faltam quase sempre livros neste tipo de congressos. E uma montra de livros não serve só para “dar ambiente”; serve sobretudo para aceder ao que devia ser uma selecção de obras ajustadas à discussão das questões ligadas à literatura infantil, que passam quase completamente ao lado das livrarias portuguesas. Talvez assim a belíssima instalação comissariada por José António Portillo tivesse chamado mais gente, em vez de ficar a gravitar no vazio. Gente que não faltou nas extensas filas da cafetaria, a cada intervalo do congresso. Estão a imaginar 700 pessoas a querer tomar café ao mesmo tempo? (sim, porque fora dos intervalos a cafetaria fecha!) Um pesadelo tornado realidade. A Gulbenkian consegue organizar excelentes congressos como este, mas não consegue resolver o que não são mais do que peanuts? Não acredito.

1 comentário:

angelina maria pereira disse...

Não podia estar mais de acordo com os seus reparos. Este congresso foi excelente pelo conjunto de comunicações e paineis; e pelo número de participantes. Espantoso é que a Gulbenkian não consiga abrir a cafetaria durante as sessões (já agora: um café= 1euro??)e tenha 'esquecido' de emoldurar a belíssima exposição (tão escondida lá para os fundos...)de Portillo com...a matéria-prima do congresso: livros, livros, livros!!