Concordo com a Carla Hilário Quevedo: o debate foi “cordato”. Mas, dada a disparidade argumentativa entre ambas as partes e o pouco tempo de antena, ficou-se pelos mínimos olímpicos. O grande senhor da tauromaquia, João Palha Ribeiro Telles, repetiu a conversa serôdia da “tradição” e garantiu que, se Portugal e Espanha acabassem com as touradas, “havia uma guerra civil.” Tenham medo, muito medo. Mais para o fim, deixou um aviso inquietante a propósito da identidade nacional: “Por isto estar a entrar numa evolução em sentido negativo, é que isto está a bandalheira que está” (reflictam todos sobre isto durante o fim-de-semana, sff). Informou-nos também sobre a supremacia da ração da Malveira (não dá cólicas) e explicou que o touro “foi criado para lutar” até ao momento em que, na arena, se estabelece “uma forma de relacionamento” com o toureiro. É uma coisa tipo paixão suicida, não sei se estão a ver.
A meio do debate, foi dada a palavra ao filho, um rapazola que fez uma entrada triunfal: “Eu cheguei atrasado, mas penso que estão a falar de circos e touradas”. Bom começo, sim senhor. Assumindo integralmente a linhagem tauromáquica, insistiu nos “mas diga lá, diga lá”, enquanto afrontava “aquele senhor Moutinho” [Miguel Moutinho, presidente da associação ANIMAL] com uma má-criação intolerável. Se as cabeças ocas se ouvissem, tinha-se levantado uma ventania nos estúdios da SIC. Sinceramente, antes o pai Ribeiro Telles.
Quanto ao grande senhor do circo, Victor Hugo Cardinalli, outro empresário que faz o seu negócio graças aos animais, como o próprio disse, proferiu as banalidades do costume. Circos sem animais? Nem pensar. É disso que o “povão” gosta. Alguém lhe explicou que já há muitos circos sem animais e deu o exemplo do Cirque du Soleil. A resposta foi de chicote: “Isso é para os queques de Lisboa!” Segundo a avaliação no terreno, se o Cirque du Soleil fosse “para Viana ou para a Amareleja” não tinha hipótese, porque o “povão” dessas terras só compreende o circo dele. Esta preocupação educativa é louvável e por aqui se pode ver como o senhor Victor Hugo Cardinalli tem o seu público em grande conta. Os espectadores de Viana ou da Amareleja só têm que agradecer.
(Ilustração de Luís Manuel Gaspar)
3 comentários:
O civismo de um país é medido pela forma como trata os seus animais - não foi mais ou menos isto que disse Gandhi? Estou com ele.
sabe o que senti ao assistir Carla? o verdadeiro sindrome da vergonha alheia.
De acordo com ambos. Outro leitor habitué do jardim alertou-me para o facto de a preciosa informação sobre a "ração da Malveira" pertencer a Victor Hugo Cardinalli...
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