quarta-feira, 15 de abril de 2009

ESCOLA E LITERATURA, 2


No seguimento do post anterior, aqui ficam as respostas finais de Maria do Carmo Vieira, publicadas no último JL:

Que lugar devia ter então a literatura nas escolas?
Devia ser privilegiada. Qualquer aluno que saiba interpretar e ler Luís de Camões ou qualquer texto literário sabe interpretar um texto pragmático ou escrever um regulamento, uma acta, um relatório. E não me venham dizer, como tem sido argumento, de que isto é elitismo. As pessoas ‘pobrezinhas’ são pobres, não são estúpidas.

Qual é o perigo de, como diz no livro, «banir a frase ‘Era uma vez…’»?
Perder os contos de fadas é fazer as crianças perder o contacto com o simbólico. Sobretudo, é não deixar que elas sejam crianças e se deixem seduzir para a beleza da palavra. É nos contos de fadas que fazemos a nossa primeira aprendizagem, quase iniciática, da vida, mas de um modo protegido. Um dia mais tarde, vamos entrar em contacto com a vida já sem protecções, mas já fomos treinados. É isso que agora não se faz às crianças, não se lhes dão defesas. É só o lúdico. Ora, a vida não é isso. Por isso mesmo a Escola tem de preparar para a vida. Não é fingir que ama as crianças, porque isso não é amá-las mas desprezá-las.

2 comentários:

CPrice disse...

Obrigada Carla.
Importante este dar a conhecer numa altura em que se tenta esvaziar tudo o que não seja .. contabilizável.
Na escola da minha filha aparece a esperança sob a forma de tertúlias que se organizam na biblioteca às sextas feiras à tarde com escritores de livros que fazem ou não parte do “plano de leitura”. Os miúdos gostam. Eu, mãe atenta, leitora compulsiva, também.
Mas o facto é que dá trabalho.
:)

Carla Maia de Almeida disse...

Once, tudo o que vale a pena dá trabalho, e nem sempre com os resultados que desejamos. Mas vale a pena tentar, porque de tudo recolhemos frutos. Saibamos estar atentos, começar por aí, e quem sabe...