terça-feira, 2 de junho de 2009

ÁLVARO MAGALHÃES EM ENTREVISTA À NM


(…)
Já disse que começou a escrever literatura infantil para a sua filha, personagem principal d’O Circo das Palavras Voadoras. Como é que ela reagia às história que escrevia para ela? Era crítica ou ficava toda contente por ser personagem de um livro?
Ficava, mas aconteceu-lhe a ela e a mim o mesmo que a Oscar Wilde quando se propôs escrever um livro para um sobrinho e lhe perguntou: «queres que eu escreva um livro para ti em que tu entres?». Ao que o rapaz respondeu: «Está bem, desde que não seja um livro para crianças». [Ri] Ela também me dizia isso e foi muito útil porque, de facto, um livro infantil não deve ser só para as crianças, tem que ser também para os adultos. Não há poesia nos poemas que são só para crianças. Vergílio Ferreira dizia no seu Diário que um livro para crianças deve ser para crianças, naturalmente, e elas devem compreendê-lo, mas deve aguentar-se numa nova leitura quando elas forem adultas.

E isso acontece?
Infelizmente, a maior parte dos novos livros para crianças são só para crianças porque a nossa literatura infantil transformou-se numa autêntica indústria da vulgaridade, prevalecendo o desejo de lucro e o espírito pedagógico. É preciso dar muitas voltas para descobrir livros que sejam bons para as crianças e tenham também carácter literário. Há uma convicção errónea de que as crianças não acedem ao material literário, quando é exactamente o oposto: as crianças acedem naturalmente à literatura.

Nos seus livros não existe essa tentação pedagógica?
Não, apesar de as pessoas poderem encontrar neles material pedagógico. Por exemplo, podem associar a colecção dos Contos da Mata dos Medos à preservação da natureza, mas os meus livros não têm propósitos, nos textos literários nunca existem propósitos. As pessoas encontram-nos lá da mesma maneira que nós encontramos leões e dragões nas formas das nuvens, vemo-los porque queremos ver.

Nos seus livros, que são também para crianças...
Disse muito bem, são também para crianças, era assim que deviam ser designados.
(…)

(Entrevista de Catarina Pires e fotografias de Reinaldo Rodrigues, Notícias Magazine de 31 de Maio de 2009)

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