terça-feira, 16 de junho de 2009

PÉROLAS, 2: A BRANCA E A PRETA


Mais uma pérola de outros tempos desencantada nas estantes da livraria Sá da Costa, que aqui reproduzo abreviadamente. O autor é o mesmo das inefáveis Flores Para Crianças, “um dos maiores escritores de literatura infanto-juvenil da actualidade”, segundo definição do próprio. Comentários para quê? É um case-study português.

“Branca de Neve brincava
com mil brinquedos que tinha,
nada a ela lhe faltava
em sua rica casinha.

Tinha bonecas que andavam,
carrinhos e caminhetas,
tinha aviões que voavam,
pianos, tambores e cornetas.

(…)

Tinha tudo, assim parecia,
mas é bom de adivinhar
que faltava companhia
para com ela brincar.

E ao Caracol perguntou
o que havia de fazer.
– Pede à Fada – explicou –
tudo o que desejas ter.

Quero uma menina, Fada,
p’ra brincar sempre comigo.
E logo a nova criada
trouxe uma filha consigo.

Era triste o seu olhar,
muito bom seu coração,
mas nem sabia brincar.
Era a Negra de Carvão.

(…)
Branca deixou-a brincar
com os brinquedos que tinha,
Negrita ficou a olhar
boca aberta, pasmadinha.

(…)

Foi um dia de encantar!
Sonhavam ser sempre assim…
Mas não as deixam brincar
e o princípio fez-se fim!

- Menina Branca de Neve
não posso brincar consigo:
sua Mãezinha me teve
duas horas de castigo.

Branca de Neve correu
a saber qual a razão
do castigo que a Mãe deu
à Negrita de Carvão.

- Na cozinha a lavar
ou limpando o corredor
é que a preta deve estar.
Ela é pobre e doutra cor!

(…)

[Porque receio bem nesta altura já ter perdido os meus últimos cinco leitores, aqui fica o já final da história e respectiva moral.]

Branca aprendera a lavar,
a engomar e a coser,
Negrita a saber brincar,
a bem ler e a escrever.

[Que bonito.]

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