É difícil perceber quando é que as coisas deixam de fazer falta. Por exemplo, os cordéis. Desde quando deixámos de guardar cordéis? Em casa dos meus avós, em Matosinhos, havia uma gaveta onde se acumulavam cordas e fios de nylon e algodão com vários tamanhos e cores, para o que desse e viesse. Usavam-se para um conserto provisório, para atar sacos de arroz ou massa ou para fazer o jogo da cama do gato, se fossem suficientemente compridos. Guardar o cordel que atava a caixa de pastéis da Confeitaria Ferreira era tão normal como guardar os papéis de embrulho do Natal de um ano para o outro, ou as pratas dos chocolates, alisadas com a parte curva da unha até se tornarem quase cetim. Agora os cordéis quase desapareceram, substituídos por velcros, aberturas fáceis, fechos reutilizáveis e outros dispositivos. Preferimos as molas coloridas do Ikea para fechar os sacos de comida, tapamos tudo o que podemos com Glad e aquilo que já não presta, simplesmente, deitamos fora. Já não temos tempo para desatar nós apertados, em breve esqueceremos como se fazem laços. Inútil e demodé, o cordel está por um fio. Passou à literatura. De cordel.
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1 comentário:
chega-me aí um "baraço" cansei-me de ouvir :))
Já a outra, a literaquê? ..
Beijinho e bom fim-de-semana :))
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