Não percebo o que têm os lugares a ver com a qualidade dos leitores e das leituras. Volta e meia, diz-se que o verdadeiro leitor não lê antes de adormecer (porque é displicente), não lê na casa de banho (porque é indigno), não lê na praia (porque é desconfortável) e não lê numa data de sítios e situações por uma razão ou por outra. Se isto fosse verdade, estávamos bem arranjados. Precisávamos de ser aristocratas e ricos para usufruir do nosso sofá italiano, biblioteca privada e mansão com jardim de buxo, ficando a salvo de todo o burburinho e incómodo do mundo. É claro que há lugares mais favoráveis ao sossego da leitura, mas quem gosta de ler, lê em qualquer lado, até no meio do Festival Sudoeste ou no autocarro mais bruto de Lisboa, o 750. O único lugar que conheço onde às vezes não se consegue ler, por muito que se tente ou que não se tente, é dentro da nossa cabeça. E contra isso não há nada a fazer.
Também há quem se especialize em ler no metro, sentado ou em pé, direito ou inclinado. The New York Times dedicou um slideshow e uma reportagem ao tema. A foto acima é de Ruth Fremson.
Também há quem se especialize em ler no metro, sentado ou em pé, direito ou inclinado. The New York Times dedicou um slideshow e uma reportagem ao tema. A foto acima é de Ruth Fremson.
1 comentário:
O meu pai deve ter lido toda a colecção Argonauta de FC no suburbano combóio da linha Sintra. Ao tempo aí cerca 400 vols.
Uma vez observei o ritual. Entrava na carruagem, sentava-se no banco, sacava do bolso do casaco o livro forrado normalmente a almaço quadriculado(o processo de forrar era muito original sem empregar fita adesiva) e só interrompia a leitura para mostrar o "título de transporte" ao revisor quando este aparecia. Uma vez por outra levantava os olhos do livro, olhava por breves instantes em redor e de imediato voltava à leitura. Próximo da estação, à chegada, marcava a página com um marcador improvisado, guardava de novo o livro no bolso e dirigia-se para a saída...
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